AMARGURA DE ALMA

Meu coração sente um vazio, um vácuo me invade, sinto uma pontada como se algo o atravessasse e o rasgasse. Samuel não teve direito de escolha, teve sua vida ceifada friamente por quem mais amava. Não há justificativa!

Os sentimentos e lembranças fervilham dentro de minha mente: dor, revolta, desprezo, mágoa, dúvidas, perguntas, frustração e a lembrança do nome SAMUEL!!

Em seguida vem a lembrança viva dele sorrindo, correndo para me abraçar,me chamando de “minha vida,razão do meu viver,meu amor.”..Todo faceiro mesmo quando estava aborrecido ou emburrado, para então lembrar dele caindo ao chão, abatido ...Lembro de seu olhar distante, assustado, lagrimando, partindo, morrendo e eu sem poder impedi-lo de ir embora para sempre...Tantos sentimentos misturados, confusos.

A dor de ter meu filho sem vida, a dor de sepultar aquele jovem ser, tão pequeno e frágil. Dói viver sabendo que nunca mais ouvirei a sua voz ou suas conversas desinibidas, suas gargalhadas, tampouco verei seus gestos e brincadeiras e não mais faremos planos juntos, dói demais lembrar que só me restam lembranças. Nunca mais serei alguém completa. Sinto-me entorpecida com minhas lembranças. Como é difícil assumir a perda tão precoce, cruel, insana e sem sentido, de meu filho. A cada ano que passa minha dor só aumenta e me tortura desde então.

São cicatrizes em minha alma e coração, cicatrizes e marcas dolorosas, tento, juro que tento aprender a conviver com elas, mas ainda não tive êxito. Meu filho tinha um olhar muito expressivo, lindo, vivo, forte que dizia tanta coisa mesmo no silêncio das palavras, olhar que me procurava com anseio,cuidado,ternura e amor de filho que dizia sempre: “mãe,você é minha vida,razão do meu viver..sou apaixonado por tu”...E seu sorriso era muito meigo, espontâneo e sincero. Como desejo voltar no tempo, se isso fosse possível talvez conseguisse salvá-lo e teria mudado nossa história.

Não há sequer um instante e minha vida em que eu não me pergunte: Por que?

Por que tanta maldade, crueldade. Samuel era apenas uma criança...Porque eu insisti num casamento fracassado? Por que não percebi o que pretendia o executor de meu filho? Como ele pôde planejar e ceifar a vida do seu próprio filho? Não consigo entender ou aceitar. Nada justifica este ato insano e egoísta.

Ah Deus meu. Não há como apagar de minha memória aqueles dias terríveis, lembrar de meu filho gritando: “nãoooo papai” para depois se calar para sempre, caído ao chão, debatendo-se, morrendo ali. Como superarei isto? Meu filho foi silenciado para sempre...

Como sofri ao reencontrá-lo inerte e sem vida dentro daquele pequenino e frágil caixão...Não suportei ver os coveiros jogarem sobre meu filho todo aquele barro, como sofri meu Deus...

Sempre considerei meu Samuel um grande presente de Deus, pois ele sempre me foi especial desde a concepção, já o amava antes mesmo de gerá-lo. Meu filho lutou e optou pela vida desde o meu ventre. Contudo, uma maldita arma, disparada intencionalmente contra ele não lhe deu chance alguma de resistência. Meu filho foi vencido e partiu sem querer. Ele não merecia pagar pela minha liberdade e vida de Ysrael, com a vida dele. Na inocência, pureza e fragilidade de meu filho eu tive uma nova oportunidade e Ysrael também. Meu filho Samuel foi assassinado covardemente pela única pessoa que teve direito de escolha ali ( e não fui eu ou Samuel) aos três anos de idade, sete meses e dez dias, fomos vítimas sim, de alguém que acredito eu, queria me atingir e que não suportava a intensidade de amor que meu filho e eu tínhamos, tirando-o de mim, de todos nós, de seus sonhos...movido por razões torpes, inveja, ciúmes, pois não se permitia amar ou ser amado...Mas a força, o amor, a vida que Samuel emanava de seu olhar e que hoje, de certa forma se reflete em Ysrael, é que me dá forças para suportar a vida e esperar pela justiça.