Ao meu querido,
Custei muito a tomar coragem de escrevê-lhe querido amigo, mas resolvi fazê-lo agora, antes que o tempo me leve a coragem. Tenho tido muitos motivos de alegria ultimamente, de sorrir sozinha pelos cantos, de cantar cantigas tolas pelas ruas. Sim querido, desde que te conheci, tenho sentido meus pés fora do chão, como que flutuando no céu, como que leve. As vezes até me pego sonhando pelos cantos, fazendo planos impossíveis, me pego com o pensamento tão longe.
Não devia dizer-lhe assim, não devia mostrar-lhe tanto minha alma. Não cai bem a uma dama, talvez até penses mal de mim por isso. Mas não consigo mais guardar no peito esse sentimento, que me tira o sono, me faz acordar a noite embebida em suor, e me faz sentir vontade de voar.
Não sabes como é difícil a uma dama, se colocar assim, inteira sobre tinta e papel, mas não posso mais conviver com a angústia de verte de longe apenas. Preciso de seus lábios, de sua voz. Preciso sentir suas mãos nas minhas.
Meu querido, só te escrevo essas palavras porque bem sei que sentes por mim sentimento semelhante, e que também sentes calafrio ao me ver. Percebo em seus olhos o quanto me desejas, e o quanto me quer por perto.
Sei que talvez o que você sinta não seja amor, mas sei que o tempo lhe fará amar-me como eu hoje o amo. Sim, eu o amo. Nem sei bem o que é isso, não conheço bem o amor, mas os poetas o descrevem assim, e creio que seja exatamente assim.
Sinto-me corada em escrever essas palavras, sinto-me envergonhada por não conseguir guardar pra mim, em meu coração esse sentimento.
Mas meu querido não se sinta na obrigação de me amar, ou nem mesmo de responder a essa carta. Amor não pede nada em troca, e apenas escrevo para que se lembre um dia de que foi amado. Mas amo, e espero se um dia quiseres me ter sua namorada.
Até um dia, quando quiseres.
Helena
(Imagino Helena uma mulher do século XIX, que embora seja uma dama, está a frente de seu tempo, e escreve ao amado, em busca de um amor possível).