Não me deixe seguir só.
Se pudesse viajaria para bem longe...
Afastava-me de tudo e de todos;
De tudo que tenho vivenciado.
De todos que tenho visto nestes
últimos quarenta e três anos.
Essa mesmice corrosiva e doentia
que nos assola e fere!
Da força desproporcional;
Da futilidade;
Do imediatismo;
Do individualismo convicto;
Do tudo eu;
Do primeiro eu;
Do tem que ser assim;
Do jeitinho;
Da lei da vantagem;
Do desamor desenfreado;
Da falta de poesia;
Da violência que nos consome e
mata, todos os dias;
Do poder corrompido que só serve
a quem é igual e do meio;
Da insensatez arquitetada;
Da irresponsabilidade pensada e
meditada;
Da ignorância cultivada e regada,
dia após dia.
Ah, se pudesse viajaria!
Fugiria de mim.
Você, que conheci agora, quer vir
comigo?
Venha comigo!
Não me deixe seguir só;
Não te prometo nada de excepcional,
apenas algo diferente.
2010.