MANIFESTO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, DA REDE ESTADUAL DE ENSINO, LOTADOS EM COROMANDEL-MG POR CONDIÇÕES DIGNAS DE TRABALHO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
Prezados Senhores (as),
Nós, profissionais da educação, da rede estadual, lotados em Coromandel, queremos deixar registrado perante todos os senhores (as), representantes políticos da região e do estado, antes das eleições de 2010, nossa indignação com os governantes no que se refere à situação salarial. Estamos anexando, junto a este documento, contracheques de Ajudantes de Serviços Gerais e de Professor, que estão recebendo menos de um salário mínimo, prova maior de que o Governo do Estado de Minas Gerais tem feito propaganda enganosa. No contracheque das Ajudantes de Serviços Gerais, ele usa a expressão “COMPLEMENTO SALARIAL”, cujo valor é acrescentado para que esses trabalhadores não recebam menos do salário mínimo exigido pela legislação em vigor, especificamente, a Constituição Federal em seu Capítulo II, artigos 6º e 7º. E o pior, TUDO ISSO somado a biênios e quinquênios, vantagens viraram SALÁRIO e um SALÁRIO que não chega a ser o mínimo.
É possível? SIM, senhores (as), está aí a prova. E esta situação está se estendendo aos outros trabalhadores da educação; daqui a pouco tempo também, estarão ganhando um salário mínimo. NÓS, PROFESSORES, repudiamos, sentimo-nos mal ao vermos, na mídia propagandas de marqueteiros políticos que se referem a nós, trabalhadores da educação, como profissionais essenciais à sociedade, mas não nos valorizam e não se sensibilizam com a nossa situação. Somos mesmo muito importantes, porque na atualidade nosso papel não é de apenas professores, fazemos papéis de pais, psicólogos, psiquiatras assistentes sociais e assim por diante.
A mídia deveria divulgar todos os dias, além da violência à qual estamos expostos, o abandono, o desrespeito e descaso para com essa classe de trabalhadores. É triste assistir a uma parcela significativa de trabalhadores (profissionais dedicados) migrando para outras áreas, buscando novos cursos, indo para outras profissões. E isso, num governo que divulga e cobra qualidade o tempo todo. Como é possível tanta contradição?É simples, acessem a internet, e vejam a quantidade de concursos abertos na área de educação, vejam também o salário pago e, se puderem, façam a comparação com outras áreas/classes, inclusive com a de agentes penitenciários, policiais civis e militares..., etc. É a comprovação maior de que não há investimento na base. Aliás, qualquer concurso em outra área que exige apenas Ensino Médio ou o Curso Técnico, paga-se muito mais do que se paga a um profissional da educação.
Assiste-se passivamente ao fechamento dos cursos de Licenciatura e o governo, para ter mão de obra nessa área, convida o cidadão para estudar de graça, dizendo: “venha ser professor”; não interessa se você tem aptidão ou não. Os senhores(as) devem conhecer outras sociedades, logo, devem saber que a educação deve ser a base de uma sociedade evoluída e justa. E base, senhores(as), significa sustentação, apoio, mas a base que é a EDUCAÇÃO, pelo fato de ficar por baixo, muitas vezes nem é percebida, NÃO tem valor, opta-se em investir em acabamento final.
Só que quando se trata dessa obra, a sociedade, está se tornando impossível não ver as rachaduras, as fissuras enormes que ai estão, fissuras humanas que demandam cada vez mais casas de recuperação, cadeias, presídios, acompanhamento de psicólogos, psiquiatras onde os sociólogos e estudiosos alertam a todo momento “é preciso investir na educação e prevenção, esse é o caminho”. Prédios, livros didáticos, merenda, senhores (as), são referenciais, porém o maior referencial, quando se trata de educação, ainda é o profissional. Vejam só, os Projetos de EaD (Educação à Distância), estão no auge, no entanto, cada vez mais estudiosos alertam que “o papel do agente de ensino é vital para qualquer modalidade de ensino” e, extremamente necessário para a formação desse cidadão capaz de sobreviver nessa atual sociedade do conhecimento.
Caminhamos para uma sociedade onde poucos ganham muito, e outros, pouco ganham. Onde estão nossos representantes políticos que se aliam a esse governo e nada fazem? Nada vêem? Se omitem? É triste ser EDUCADOR consciente nesse país, dá-se ao povo “PÃO E CIRCO”. E aqueles que enxergam além, sofrem demais! Os grandes Projetos para diminuir a pobreza e tentar distribuir renda não perpassam pela EDUCAÇÃO, são feitos através de cartões e bolsas. Pudera, investimento na educação não gera votos!Vivemos numa sociedade totalmente capitalista, amor à profissão, dedicação, o fazer com alegria, o otimismo estão vinculados à remuneração/salário. Somos seres humanos (EDUCADORES) que temos como matéria-prima outros seres humanos; por isso, também precisamos viver dignamente, criar nossos filhos, sentirmos valorizados e SERMOS realmente valorizados. Precisamos confiar que essa situação de descaso, político e social, vai mudar. Caso contrário, como ensinar crianças e jovens a confiarem, a serem otimistas, se não confiamos, se estamos desestimulados, descrentes perante esse atual processo de desvalorização?Quando Arnaldo Jabor diz “Quero voltar a confiar”, nós reproduzimos sua fala. . . “precisamos voltar a confiar” confiar que essa situação vai mudar. Mas quando? 2010, 2011, 2020, 2030? Podem ter certeza, essa fala, esse sentimento, não são apenas desse grupo de professores da rede estadual de ensino, em Coromandel, mas de milhões de trabalhadores da educação desse estado e do País.
De promessas estamos entediados!
Precisamos de ações. E a ação que esperamos dos governantes é uma remuneração digna, que condiz com a importância da educação e também com a importância desses profissionais, dentro do contexto social em que vivemos.
Coromandel, 19 de abril de 2010.
Autores: PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE COROMANDEL-Minas Gerais
Acesso com EXCLUSIVIDADE para o repórter Juan Wagner Honorato