Açoite
Do meu diário em 26/11/2009
Desabotoar as roupas e desnudar-me...tão pouca frequência. Minha alma anda tão encoberta de tantas coisas, tantos desvairios. Aquelas noites inacabadas, emendadas de outros dias conseguintes. Tantas lembraças imprecisas, umas querendo ser esquecidas, outras que trazem arrependimentos incontidos. Andar na contramão tem também outros riscos. Difícil é encarar-se com honestidade e admitir todos os erros e pecados, e pedir, sem saber para quem exatamente, uma outra chance, sem se perguntar quantas vezes isso já aconteceu. Difícil é olhar para todos sem estar usando máscaras, com uma cara de arrependido, cara de bandido inocente, cara de fiél descrente.
Deixar cair as vestes e pedir piedade, esperar que tenham compaixão, que um milagre aconteça. Que se for preciso apanhar, que batam e esqueçam. Que não me olhem pelo canto dos olhos com desconfiança. Por que o pior de tudo é essa falça esperança que alimento. Uma redenção sem cabimento.