Elas

Ainda que, no princípio, os olhos, nas palavras, os olhos, "como pó de estrelas mortas nessa terra de ninguém, descomponho meus olhares para mirar, estatelada (ou estrelada), esses restos cintilantes de suas palavras... feliz de aqui estar... 25/06/2008 20:30", no início, bem logo, já elas, dedos nas teclas, replicando, "beijo de papel".

Em adiante, cada dia, um, de tela, em roxo, na noite longa, se descobrindo, correio transoceânico, um, ou vários, cores e jeitos, lábios boca língua - dizem que virtuais -, esses, de fibras de coração, amassados, com vagar, um a um, lábios sem lábios, cada beijo, o beijo, beijo a beijo, beijos, na verdade, com elas, novamente, criados.

E, por fim, após a madrugada da agônica espera, do vôo, das alfândegas sem alma – xenofobia dos papéis -, das fronteiras para os corações, a manhã do encontro, no que elas, trementes, descansaram, umas, outras, nas costas emagrecidas, fortemente apertando, mariposas à luz, pousaram, uma em outra, em adiante, sempre dadas, antes, ainda, das primeiras salivas se confundirem.

Elas.

As pulcras, as chagadas, as de unhas carmim, as de falanges inchadas, nas maiores as delicadas, o branco no moreno leviano, sem a torpeza do primeiro instante, âncoras firmemente amarradas, aquelas, que, após os naufrágios, respiravam, as umas para as outras, dedos de luz, dedos de chuva, palma na palma, essas, elas, entrelaçadas.