O poema que não escrevi!


O amor é algo sublime e essencialmente divino e, mesmo assim, vivo uma contradição porque amar faz, mais que qualquer outra coisa, sentir-me humano. Na arte, também, o homem tenta sentir-se um deus, já que através dela é senhor da criação, imagem e semelhança do Criador, portanto.
 
Só sei que sou poeta e que tenho a capacidade de amar, o que já provocou versos e versos apaixonados.  Versos em demasia, talvez.  Musas em demasia, sem a menor sombra de dúvida! Entretanto, o que quero dizer novamente é que estou amando - e não sei se é possível amar em demasia.  Mas este amor é tão especial, tão mais amor que qualquer amor que eu já tenha amado, que o poeta perdeu a fala, já que me sinto humano em demasia para ousar imitar o dom da criação.
 
Como meu amor se debate engaiolado em silêncio no coração, preciso abrir-lhe a porta e deixar que revoe em liberdade para festejar a ti, minha musa.  Cometendo a heresia de assumir-me momentaneamente modesto, faço aqui o que raramente faço em qualquer circunstância e abro mão de versos meus para dar lugar aos de outro, só para que minha paixão não se afogue sufocada num silêncio que não te cante:
 
PÉTALA
(Djavan)
 
O seu amor reluz que nem riqueza.
Asa do meu destino, clareza do tino.
Pétala de estrela caindo bem devagar...
 
Oh! Meu amor!
Viver é todo sacrifício feito em seu nome.
Quanto mais desejo um beijo, um beijo seu,
muito mais eu vejo gosto em viver.
 
Por ser exato, o amor não cabe em si.
Por ser encantado o amor revela-se.
Por ser amor... invade... e fim!
 
Não passa um dia em minha vida em que eu não tente ser melhor do que sou, não para impressionar ninguém, mas porque crescer e evoluir é algo irresistível quando se tem a fé de que a felicidade é possível. Mas o melhor que eu seja - ou por melhor que possa vir a ser - tenho esta incômoda certeza que o amor não se conquista por esforço e, ainda, que não se impõe por mérito. Alguém pode passar a eternidade e mais dois dias dizendo "eu te amo" e tudo fazendo para traduzir isso em atitudes sinceras e leais que nada disso, em si, trará como resultado que o ser amado, com inequívocas posturas concretas, diga "eu também!".
 
Por quê?  Ora, porque! Porque o merecimento é a medida da justiça, mas a exatidão do amor diz que sua medida é desmedida e que ele não cabe em si.  E seu encanto é que a maior e mais perfeita demonstração de amor não é capaz de provocar uma resposta equivalente, já que a paixão não é um ato de justiça; simplesmente se revela.
 
Por isso, sei bem que nada que eu diga ou faça irá tornar-me merecedor do teu amor, mas creio que de tanto te amar e manifestar que isso traz-me o gosto em viver, isso acabe te invadindo.  Por ser amor... invade... e fim!  Daí, quem sabe, teu amor se revele, enfim!
 
Quando tu disseres sinceramente "eu também", pode ser que eu jamais escute, mas nunca será tarde demais porque a justiça, então, será feita e cada um há de ter o que merece. O amor que for verdadeiramente vivido será a recompensa, mesmo de quem não tenha o que tanto sonha.  Quem vive o sonho, mas não ama mesmo, pode não ser verdadeiramente recompensado.
 
Beijo!