Carta de um Homem de Coragem

Hoje minha vida tem um rumo bem diferente de tempos atrás. Assim, as pessoas que me conhecem agora não sabem de uma fase marcante de minha vida profissional, o que de certa forma me traz muito alívio e tranqüilidade, pois durante muito tempo vivi a amargura de ser rejeitado em meu ambiente de trabalho.

Como já disse, essa fase penosa de minha vida já passou, entretanto aproveito esse momento para abrir meu coração para explicitar toda a experiência conturbada que tive uns anos atrás quando fui protagonista de um escândalo na empresa que eu trabalhava.

Lembro que no dia de minha formatura fiz votos de ser um funcionário exemplar, pautando meus atos em princípios éticos e justos para ajudar a construir um país melhor. Na verdade, eu era apenas mais um jovem destemido e sonhador que queria mudar o mundo.

Assim, quando ingressei no primeiro emprego tinha muita motivação e desejo de realizar coisas boas e interessantes. Mas, lembro-me bem que no meio da empolgação toda, aos poucos, fui me deparando com coisas tristes dentro do ambiente de trabalho que mexeram comigo de uma forma intensa.

Ali, diariamente, via cenas de corrupção e desvio de verbas, o que causava em mim uma grande revolta. E, pouco a pouco, a revolta transformou-se em ousadia para tentar mudar aquela situação caótica.

Na tentativa de mudar o estado cancerígeno de minha instituição me propus a falar com o Ministério Público Federal (MPF). Confesso que a principio não achei que o Procurador da República fosse realmente encarar a briga.

Em poucos dias, com apoio de amigos, juntei documentos e informações preciosas para revelar os comportamentos errados que eu via.

Então, semanas depois estourou a bomba !!! A mídia caiu em cima, apresentando nomes, fatos e valores desviados. E, sem que eu pudesse imaginar, meu nome estava no meio daquele furação de denúncias.

Não tinha idéia que ao longo do desenrolar das apurações dos crimes, eu iria sofrer tanto. Lembro que durante meses fui perseguido pelos superiores; recebi ameaças por telefone, sofri assédio moral, mas também fui aclamado por alguns funcionários que reconheceram meu papel para mudanças.

Após minhas denúncias no MPF, cheguei a ouvir, pessoalmente e por telefone, frases horríveis, como por exemplo: “agora você jamais vai ter sossego aqui no trabalho !!!” “você pode encomendar o caixão !!!" “você é um delator e vai se ferrar !!!” “seu dedo-duro nojento !!!” “lugar de alcagüete é debaixo de setes palmos de terra !!!” seu informante, boca-mole, língua-solta etc. etc. - tudo isso me fez sofrer muito.

Hoje, depois de tanto tempo, vejo que ter denunciado a corrupção foi algo de encontro a política suja e corrupta de uma época, fazendo com que a instituição tivesse que cortar a própria carne para manter-se viva.

Atualmente, sinto-me aliviado, pois o tempo aplacou as dores daquela fase horrível de minha vida profissional. Penso que foi uma etapa lamentável, porque eu fui o algoz daquela revolução, mas digo que fiz tudo com espírito altruísta e sentimento nacionalista !!!

Não sou um ser humano perfeito, pois tenho muitas falhas como todos os demais. Enfim, tenho o sentimento do dever cumprido, e me orgulho de ser um cidadão que lutou para melhorar um pouco nossa sociedade.

Não busco reconhecimento por nada, apenas sei que participei de algo que pode mudar a história de uma “pequena parte” de nosso país !!!

Considero-me um brasileiro de verdade, que se preocupa com a coletividade, ao invés de acomodar-me simplesmente buscando interesses egoístas e individualistas.

Sou grato por todo apoio que sempre tive e vivo feliz, pois vi que Deus me retribuiu enormemente, dando-me muitas vezes mais por tudo aquilo que renunciei em prol da melhoria de nosso país.

Breves - PA, 16 de abril de 2010.

Carlos Antunes Costeiro

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Ilha de Marajó – PA, Abril de 2010.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 16/04/2010
Reeditado em 17/04/2010
Código do texto: T2200861