Carta de uma Pessoa Obsessiva-Compulsiva
Sei que todo mundo tem problemas, mas não consigo entender por qual motivo eu tenho muito mais do que qualquer outra pessoa que conheço !!!
A minha vida é um pesar constante. Cotidianamente vivo aflito por idéias e comportamentos ruins, muitos dos quais difíceis de serem entendidos por uma pessoa comum que nunca passou o mesmo sofrimento que o meu.
O meu dia-a-dia é repleto de coisas absurdas e ridículas. E tenho que confessar que não sou só eu que me assombro com essas coisas, pois todos a minha volta ficam abismados com as manias incontroláveis, repetitivas e persistentes que permeiam minha vida.
Sou dominado por pensamentos desagradáveis que vão desde aqueles de conteúdo sexual pervertido, até os de idéias trágicas e depressivas. Por mais que eu lute, não consigo afastar de minha mente e da minha rotina esses tormentos. Às vezes, eles somem por um tempo, o que me traz certo alívio. Isso geralmente ocorre quando assumo alguns determinados comportamentos.
Freqüentemente sou atormentado por idéias estranhas, imagens esquisitas ou pensamentos sofríveis do passado que invadem a mente, independentemente da minha vontade. Esses relâmpagos e trovões do meu inconsciente causam um tremendo incômodo para minha alma. São como chamas terríveis do inferno que me atormentam todo tempo.
Eu sei que tudo isso me afasta da realidade. Tudo isso é algo ruim de meu cérebro, mas, mesmo sabendo que essas coisas nada mais são do que uma irracionalidade de minha gênese, não tenho sucesso em conseguir afastá-las de mim.
Assim, vivo diariamente dominado por manias e cacoetes que afetam drasticamente minha qualidade de vida. Desde longa data, vejo que esse Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) traz um grau de sofrimento enorme para mim e para meus familiares, pois causa uma interferência dolorosa em tudo que faço e me proponho fazer. Assim, vivo sempre incomodado e angustiado.
Luto constantemente, no entanto não consigo me livrar dos comportamentos e atos mentais repetitivos e estereotipados. São tantos os rituais sem sentido que tenho que executar que é até difícil enumerá-los. Lavar as mãos várias vezes seguidas, tomar banho repetidamente, conferir reiteradamente se esqueci a torneira aberta, voltar seguidamente ao quarto para checar se as luzes estão apagadas, averiguar se as janelas da casa estão trancadas, levantar da cama muitas vezes à noite para conferir se a cerca elétrica e o alarme estão funcionando são alguns exemplos de rotinas ensandecidas que tenho que cumprir exaustivamente.
Essas coisas consomem muitas horas do dia e interferirem significativamente na rotina normal de minha vida, no meu trabalho, em atividades sociais ou nos relacionamentos com amigos e familiares.
Por vezes, percebo que a única saída que tenho é perpetuar executando voluntariamente tais rituais para reduzir a ansiedade ou mal-estar que sinto ou às vezes tenho que fazê-las para prevenir alguns pensamentos trágicos e malévolos que atormentam minha razão. Tenho medo de fazer coisas ruins, e cumprindo esses rituais sinto-me mais calmo e tranqüilo.
Vivo envergonhado por tudo isso, e já tentei esconder esse mal de amigos e familiares, pois vejo que vivo preso num mundo de atos absurdos.
Quando paro para analisar minha vida vejo que essas compulsões e obsessões são totalmente sem sentido, frutos irracionais de uma mente doente.
Não sei como me libertar de tamanho tormento, mas espero um dia poder curar minha alma de todo esse sofrimento.
Breves - PA, 14 de abril de 2010.
André Souza
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Ilha de Marajó – PA, Abril de 2010.
Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br