Em boa companhia
 
Hoje, pensei sair sozinho e caminhar sem rumo e sem destino, tentando resistir a idéia de ficar sentado do lado de fora do mundo. Até pensei em alugar um divã e um ouvido de aluguel pra me esvaziar um pouco da minha angústia. Eu queria mesmo era ficar sozinho, pra meditar profundamente sobre a minha vida, achar o meu espaço. Estou me sentindo perdido, impotente. Ah! que saudade de Laila, minha melhor companhia. Mas ela deve estar aborrecida comigo, aborrecida com o meu silêncio, sem entender o que está acontecendo na minha vida. Todos os dias eu resisto a tentação de pegar o telefone e ligar pra ela. Tanto que ouço a sua voz sussurrando: "liga pra mim, seu bobo!".
Que saudade de Laila! Quando nós nos reencontramos, depois de muitos anos, a única coisa que eu sabia, ou pelo menos imaginava, era que eu não tinha mais espaço na vida dela. Talvez ela nunca tivesse sequer pensado em mim, uma única vez. Era apenas uma "lembrança esquecida" na sua memória.
Na verdade, a única coisa que eu sabia era que eu amava Laila. É muito confortante estar com Laila, ou simplesmente ouvir a sua voz, ou ainda, ler algo que ela escreveu, mesmo que soe aborrecido, porque ela escreveu zangada, querendo atingir meu coração, querendo me dar um tapa sem mão.
Tanta coisa tem acontecido comigo. Tanta coisa que gostaria de desabafar com Laila. Mas, no momento, eu não tenho liberdade pra isso. Sua companhia me faz muita falta; ver o seu rosto, ao vivo e em cores; ouvir sua voz, audível e não a do pensamento; sentir o seu toque e não o da imaginação.
Eu sei que no meu silêncio, corro o risco de que Laila não queira mais saber de mim. Mas por enquanto eu preciso correr o risco. Porém, ela sabe que o meu amor por ela é incondicional, independe de eu ser amado. Depende apenas dela existir.
Breve eu vou poder falar com Laila, e eu sei que ela vai ficar feliz. Eu vou me sentir menos sozinho.
Hoje eu queria sair sozinho, sem rumo sem destino. Sozinho. Mas, como em todos os dias, como em todas as horas, sinto saudade de Laila. Por isso, sigo sim, sem rumo e sem destino, mas em boa companhia, na companhia de Laila.