Vidas Mortas (epitáfio)
Quando o ar esvair de meus pulmões
e morte encher meu corpo.
Não quero casa de mármore,
nem lápide com alguma escrita costumeira.
Quero flores, fogueiras,luz .
Pra alegrar meu espírito, música brasileira.
Aqueles que me odiavam
ou não gostavam do meu jeito de ser.
Morrerei, mas vou os perdoar,
não tenho culpa se meu estilo, os faz sofrer.
Aos amigos de verdade,
podem ter certeza nunca tive inveja do que são.
Cada vitória de um amigo,
tocava minha emoção.
Minha esposa, sempre forte e determinada,
cuidadosa de sua prole.
Vivemos 25 anos juntos, nos amamos,
mas não nos conhecemos.
Quem sabe nos conhecemos demais,
não há mistério de tudo já sabemos.
Acho que nunca te fiz feliz,
mas agora não posso mudar,
até te fiz chorar.
Minhas filhas, a medida de amar
é amar sem medida. Eu ás amo.
Porque elas cresceram,
não sou mais o seu herói,
sou o chato, o irritante.
Sou o que dizia não, o que proibia,
o que exigia, a quem se devia temer.
Lívia o pai ficava feliz contigo.
Cristina, tua presença sempre me trouxe paz e carinho.
Suzana, tens muito que me perdoar,
principalmente por te amar.
Pai, a saudade da Mãe me fez viajar.
Tua vida meu exemplo.
Pena que nunca consegui parecer contigo.
Meus irmãos,
como fomos distantes e insensíveis,
que pena.
Julita,minha sogra, quase mãe,
tive o prazer de te conhecer e te admirar.
Foram anos de sofrimento
psicológico e insegurança.
Mas, no meu dia final,
quero que queimem minhas fotos,
apaguem meus filmes.
Deletem meus arquivos,
esqueçam os meus versos.
Não quero que se lembrem de mim
por causa de um objeto ou de uma imagem.
Se possuir alguma coisa,
que doem a quem precisar.
Meus órgãos, todos,
córneas, ossos, pele, tudo.
Quero que sejam doados.
Mandem para cova
Só o resto de um corpo, sem vida.
Pode ser que fique pairando no local
uma feliz alma.
Lembrada no Natal,
no Dia dos Pais
ou nos Finados.
Como é frágil o sentimento,
como posso amar?
Se não me amo mais.
Não cometerei nenhuma loucura,
se não estou louco???
Mas a vida que parecia tão bela,
hoje me parece horrível.
Sinto a vida saindo deste ser
tomado pela depressão.
As dores são profundas,
lá onde se esconde a alma.
Quantas lágrimas ainda vou chorar.
O médico, os remédios,
as mensagens, as orações.
Nada muda meu pensamento,
nem quando escuto minhas canções.
Dego Bitencourt
23/07/2007.