BALAS DE GOMA VERDE

Como eu previra, houve beijos arrebatadores, olhares desejosos, suspiros lancinantes, mas apenas um abraço sincero. Foi numa quinta feira a noite que tudo acabou. Novamente o amor veio até mim e passou como um vento. A solidão de um homem não cabe num poema.

Um novo anjo com um velho violino, tocando uma antiga canção que eu havia esquecido, mas agora sua lembrança me traz dor.

Promessas de um novo começo para um novo fim, a cada pétala de rosa um plano perdido, doces mentiras que alimentavam uma esperança vã.

Seus olhos verdes tão brilhantes que pensei que fosse o sol. Tanto amor e tanta ilusão. O cabelo de prata ainda toca no meu rosto que você não lembra mais. Na mão a taça da boa e da má sorte, como Baco me oferece o vinho escasso de seus carinhos, corpo junto, pensamento longe, um de nós estava sozinho.

Dois encontros, um destino, nunca mais.

Suas palavras definham como o verde nas noites de outono. Tudo tão falso como um bang bang italiano, tudo tão lindo quanto um sorriso dado sem querer por alguém que não estava ali.

Encontros nos outonos e primaveras da vida, sempre em estações transitórias, nada para ficar na lembrança.

Quem sou? Balas de goma verde, risoto de sexta feira, vinho barato num pub, pressa para ir embora, lagrimas nos olhos, saudades de alguém, sem amor, sem glória sem anjos no céu?

Onde estou? Rio que corre pro Sul, um Rio Grande, uma pedra que rola, corajoso com um cavaleiro no telhado ou tão taciturno com uma dama das sombras?

Para onde vou? Colocar uma mochila nas costas e fugir, chegar até a Foz de uma catarata para ouvir que tudo acabou, um sebo de onde nasci, cozinhar para você, assistir a um filme de terror de 1956 que não dá medo?

Nada que foi oferecido tinha nozes e castanhas, mas mesmo assim foi recusado, e você me pede noticias. Como um coração quebrado pode bater?

Não quero que me deixe, mas não pode ficar pois algo lhe espera mais a frente, um amor que só lhe fará sofrer, mas que lhe ainda traz esperança, a minha já abandou estas terras a muito.

Na tua pele meu corpo treme, alguém fala com Deus, e eu flutuo, é um corpo a navegar e um anjo branco ao leme.

Não ser alegre nem triste, ser apaixonado. Não vou rir nem chorar, quando a dor me torturar, quando meu coração parar, a saudade atormentar, e os dias vazios e cinzas chegarem para ficar. Quando deste sonho encantador nada sobrar, não vou rir nem chorar. Quando o sol perder o brilho, quando a ultima estrela cair, e o céu se for não vou rir nem chorar. Quando a dor chegar vou mentir, quando você foi não ri apenas chorei.

As mais belas fotos no lixo, as mais falsas palavras na cabeça, quando achei uma razão para viver, você me tirou a vida. Nossa estória é um curta metragem com um só protagonista, canastrão.

Me fiz triste na alma, pois na mochila trouxe a tristeza, se fui feliz outrora, não lembro, mas não me arrependo, pois todos os versos são tristes e todos os corações são quebrados.

Se este amor morreu em bravura, do aço, bronze, terra e fogo, não deixo morrer também a ternura.

Quero te ver feliz, mas te ver feliz seria com tua outra metade não comigo. Quero te ver feliz mesmo sabendo que nunca terei sua beleza de novo comigo.

A cada noite que estivemos juntos tentei atrasar o tempo, mas o que acontecia não foi designado pelo destino e as horas viraram segundos. A solidão de um homem cabe num coração?

Um recomeço agora, dois caminhos distintos, eu começo de onde foi o fim, e você parte, sem partes de mim, não sou a pessoa perfeita nem um príncipe, sou sincero e real.

E numa noite fria como meus sonhos, você estiver envolta de braços estranhos e beijos de plástico, e no radio nenhum locutor de pijama estiver falando, e um cidadão, quem? Estiver cantando, pode ter certeza que foi tudo verdade, foi pouco tempo mais valeu, e quando ler esta carta, vai sorrir e chorar ao mesmo tempo, lembrando sempre de que como escritor fui um ótimo advogado, agora tenho que percorrer meu longo caminho, pois sou um homem com um foguete nas costas indo para lugar nenhum.

Wagner de A a Z
Enviado por Wagner de A a Z em 07/04/2010
Reeditado em 23/04/2010
Código do texto: T2183198