ENQUANTO SEU VELÓRIO ACONTECIA...

Querida alma de luz...

Foi difícil ir ao seu velório, em alguns momentos pensei que iria sufocar de tanta tensão por estar novamente naquela capela. Quase fui embora, mas decidi ficar e participar dos seus últimos momentos e da linda história que foi sua vida.

Olhei para você e lembrei-me daquele homem que há tantos anos lutava contra o câncer, de quando fui visitá-lo no hospital, na sua casa e agora no caixão! Tantas cirurgias, dificuldades, preconceitos por causa da sua aparência, limitações, vontades e agora... Aconteceu o que algumas pessoas mencionaram ser "o que todos esperavam", por causa da gravidade da sua patologia. Nunca tive a oportunidade de conversar com você, saber como se sentia diante de tudo isso, entretanto, sua esposa sempre falava muito sobre você e vou dizer: que mulher tinhas ao teu lado homem! Lembro que ao te visitar depois da cirurgia fiquei espantada com a mudança da sua aparência e perda de peso, mas totalmente emocionada com as palavras da sua esposa, os olhos dela brilhavam ao falar de você, havia tanta esperança e amor em tudo que ela dizia que ao deixar aquele hospital entendi o que era o amor em sua essência. Agora, ali estava ela... Ao lado do teu caixão. Olhei para o lado e vi algumas pessoas sentadas, outras em pé, algumas falando sobre você, outras sobre um assunto qualquer... Teu genro trouxe seu neto para dizer "tchau vô" e passar a mão sobre seu rosto. Quando começaram a cantar, uma de suas filhas retirou os óculos e com a toalha pressionada aos olhos chorou até soluçar. Observei essa cena e pensei em como escrever tal situação de total emoção, chorei. Por um momento "dei vida" para aquela toalha verde de mão totalmente encharcada de lágrimas e na representação triste que ela passou ao contexto. Flores, velas, rendas em volta de você e uma vida que acabou. Antes de levá-lo para o sepultamento sua filha disse algumas palavras e pediu uma salva de palmas em sua homenagem. Não houve quem não chorasse pelas palavras pausadas, tremulas e emocionadas que romperam o silêncio da capela... Não houve quem não se lembrasse da tua luta contra o câncer. Fiquei até o final, vendo os coveiros cobrirem com cimento tua sepultura. Vou te contar um segredo: tive vontade de entrevistar os coveiros! Essa é uma vontade antiga de conversar, extrair, perceber e entender como essas pessoas realizam esse trabalho. Também pensei em você dentro do caixão, um corpo, apenas um corpo. Vai na paz, lutador...

Luciana Soares
Enviado por Luciana Soares em 02/04/2010
Código do texto: T2174022
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