A falta que somos
A falta que somos
“Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta
Hoje não a lastimo
Não há falta na ausência
A ausência é um estar em mim”.
Carlos Drummond de Andrade
Não chores porque te falta algo ou alguém.
Chores se te perderes, se nem a ausência que sentes for unicamente tua.
Não somos do tamanho que nascemos, nem carregamos dentro de nós a ínfima medida dos nossos dias.
Somos, sim, do tamanho do que nos falta.
Cabemos direitinho no vazio que abrigamos.
Nossa fé, nossos sonhos, o nosso olhar incerto.
Tudo nos aproxima de nós mesmos, torna-nos do nosso caminho mais perto.
A ausência que sentimos, não é de algo ou de alguma pessoa. É de como somos com isto ou aquilo, com este e não com aquele; porque não existe outro ele como não há outro eu, como não há outro tu.
Que este ele te falte!
Ainda trarás em ti a ti mesmo, ou mesmo só por isso!
Não há mágica que torne o espaço exato onde acomodas quem te confirma, maior ou menor.
O verdadeiro feitiço já foi lançado. Serás, enquanto puderes, quem o esconde dentro de si, quem não permite que ele se perca achando que o esperam outros corações.
Sei que é difícil entenderes o que falo.
Talvez porque não seja assim tão verdade.
Não o sei. Mas quem sabe?!
Entanto, enquanto estiveres lendo este poema, escondidinha em si, encolhida num cantinho teu; saberás o quanto é real o que te escrevo.
Terás falta (se a tiveres), saberá o quanto cresceste e o quanto caberás mais em ti, serás maior por dentro e, secretamente, serás maior morada para quem convidastes para entrar em tua vida.
E este alguém, esperto que é, aconchegar-se-á no tamanho em ti para ele preparado.
Ceiará contigo, repartirá o pão e, depois, sapatos descalços, verá que é tão noite e que ficou tarde demais para ir embora.