Adeus!
 
Tudo acabado, perdido!
 
C.
Juvenil, ardente, ébria de amor, C.
Bela como a filha duma divindade!
 
Despenhei-me cegamente no vórtice de teus braços
Transpus montes e vales em busca do teu sorriso
Construi uma imaginosa vocação de poeta para te compor orações que os meus lábios te deviam
Chamei ao amor devoção, ciciando-a em teu ouvido
 
Sucumbi às delícias das amantes predilectas
Consigo, C., vi, senti, saboreei o êxtase
Gozei
 
Provei até teu ciúme de mulher
Ciúme feroz, doido, cego
Engrandecido a corrilhos às proporções que lhe dá a distância
 
………………………
Cuidei que o amor era invencível como a morte
Mas não
Sabe o que mata o amor?
Não é a mentira, não!
Não é a hipocrisia dos fariseus patranheiros! Nem a devassidão!
 
É a petulância!
A PETULÂNCIA!
Sua petulância é de um ridículo lacrimável, C.! Me humilha!
 
………………………
Se eu pudesse, ao menos, dizer que este meu triunfo sobre o veneno doce da paixão era um triunfo ‘a seco’!
Mas não. Estou nu. Estou só.
E… escrevo este ADEUS, chorando.

Porto (Ribeira), 25 de Agosto de 1929
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 23/03/2010
Código do texto: T2154944
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