NOSSA SEPARAÇÃO FÍSICA

Filha, já se passaram quase três meses da sua ida... Parece muuuiiito mais que isto. Estou aqui e não sei direito como planejar meus dias ou a eternidade. Não sei ao que me acostumar. Procuro viver um dia após o outro, mas, ainda, em todos eles, espero ouvir

"- Booom dia, luz do dia!!!

"- Mãããeee, to com fomeeeeeeeeee" ,

"- Mãããe, cheguei!" , "

- Mãããe, você taí?"

"- Mãe, deita aqui comigo um pouquinho?"

Sim, eu faço coisas, saio, viajo, trabalho mas a volta pra casa, o abrir da porta, o silêncio, as coisas organizadas, o queijo não partido, o iogurte não tomado, o telefone quase mudo, a falta de perfume no ar me mostram sua ausência... O oceano que nos separa vai ficando maior, eu sinto que ele está se alargando, as mensagens de e-mail não suprem, te ver e ouvir pelo skype também não. Sinto a sua prioridade na minha vida e acho que isto é ser mãe.

O momento mais difícil de nossa relação é este, quando observo o corte do segundo cordão umbilical, aquele em que você mesma o corta !

Com este corte, sem este cordão, perco a convivência, o dia-a-dia, o entra e sai, os carinhos em forma de toques e até as rusgas.

Num certo desespero, com um nó na garganta, confundo e questiono a sensatez... Procurando um motivo, que não seja o rumo natural das coisas, porque este eu não quero aceitar agora!!!

" Será que não fui boa mãe e, por isto, ela se foi? "

" Será que a criei livre demais e, por isto, a perdi? "

" Será que minha rigidez nos detalhes de sua educação a afastou de mim?"

... pausa ...

... Talvez, não seja isto... Talvez, eu apenas tenha lhe dado todas as oportunidades possíveis e tornado o horizonte o seu destino. Me encantei e incentivei seus projetos, mas não me programei para sua ausência. Ninguém se prepara para ausências...

Hoje sei o que é saudade. Ela tem a forma do vazio... de um rombo do que estava ali e foi arrancado. Ela é um espaço que, de certa forma, dói e que nada nem niguém pode preencher.

Não há culpas, sei disto. Esta é a sequência natural da Vida.

É biblico.

"... vossos filhos não são vossos filhos e, sim, filhos do mundo..."

Mas, eu só queria que o mundo não fosse tão grande.

Te amo

Saudade

GLAUCIA TASSIS
Enviado por GLAUCIA TASSIS em 10/03/2010
Reeditado em 10/03/2010
Código do texto: T2131045
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