A última poesia
A última poesia
A última poesia pela qual eu escrevo, como carta de despedida. Esta será das mais límpias de desejo e furor, será mais pura e mais solene, será mais serena e sem dor.
A quem foi o meu amor, a quem dei o meu labor, a quem esqueci-me.A quem converteu valores e sentimentos, a quem deu um dia alegria e melancolia. A quem foi assistido de todos os sentimentos possíveis.Aqui deixo a minha última expressão, expressão de paz e calmaria, com o voar das mãos calmamente, sem tremor.
Deu-me saudades e rodamoinhos, deu-me brilhar dos olhos e soluçar de dentes, deu-me sobretudo a exatidão do sofrimento, pela ausência irreparável e sem anestesia.
Vou dizendo, no fim desta carta, que eu, hoje estou curado. Estou bem e com passado lapidado até o último pó de esperança.Não existem mais rancores, não existem mais sabores de quero mais. Não existe mais nada. O passado está morrendo, no fim, no fim desta carta.
Adeus, entrego-me a Deus, pois a mim já pertenceu. Hoje não me pertence mais.Entrego-te hoje, tão bem cuidada, pois deixando comigo, arrancarei verdades mortas e ficarás ao vento do sofrimento, não valerá a pena. Vá, vá e seja feliz. Eu estou bem, siga, siga em frente.
Um beijo real, antes fúnebre. Guarde apenas em suas lembranças, daquelas como um fim de tarde, sem dor, a provocar sorrisos. É lá que eu quero ficar.
Daniel.