QUERIDA ÍRIS (5)
Ontem aconteceu uma tragédia no Chile: um terremoto muito forte causou danos muito grandes naquele país vizinho e, até hoje, foi registrada a morte de umas duzentas pessoas. Muito triste, mesmo.
Como tu és criança, ainda, nós te preservamos dessas tragédias e desviamos tua atenção aos fatos chocantes e às suas conseqüências. Mas foi muito preocupante, mesmo.
Feito o registro, vamos às reminiscências de coisas mais amenas, por exemplo, as tuas “lembranças” da Princesa.
Princesa era uma cadelinha muito bonitinha, que pertencia à Maíra – tua irmã mais velha – e que teus pais decidiram mandar para a casa da tua tia Helen quando começaste a engatinhar. Portanto, tiveste muito pouco contato com ela – mas no teu conceito, a Princesa era “tua”...
Desde cedo mostraste uma tendência para a criatividade e as estórias que contavas da tua convivência com a bichinha eram cheias de detalhes que só tu “lembravas”. Tuas recordações eram tão convincentes que, quem não sabia, pensava ser verdade. Sobre esse período de criatividade tem muito mais...
Mas, agora, vou voltar à minha infância e à minha “arca de Noé”. Hoje vou lembrar as “tragédias” galináceas.
Vó Mimo criava galinhas e, desde pequeninhas, minha irmã, Lígia, e eu nos deliciávamos com as gemadas, omeletes, ovos quentes ou fritos, panquecas e sei lá o que mais. Porém as galinhas que comíamos eram compradas, pois as “de casa”, como se dizia, brincando: morriam de velhas e com dentes.
Então, sempre havia um ou mais galos, várias galinhas e, consequentemente, alguma penosa chocando ovos e, depois, pintinhos num cercadinho junto ao galinheiro.
Eu deveria ter a idade que tens agora: sete anos , quando aconteceu o fato que vou contar.
As galinhas têm um tempo para ficar “chocando” os ovos; então os pintinhos começam a picar as cascas que os protegiam e logo saem do ninho, meio bobinhos, no início, mas logo ficam espertos. Então, ficando alguns ovos que não foram abertos, a galinha os abandona e vai cuidar dos que “descascaram”. Num caso desses, certa vez ficaram uns três ou quatro ovos e minha avó os recolheu e envolveu em uns panos colocando na porta do forno do fogão de lenha para que houvesse um calorzinho que ajudasse os pintinhos a nascer, coisa que seria muito natural e simples.
Não lembro, mas acho que era noite, pois alguém passou por ali, viu a porta do forno aberta e fechou...
Outro fato diferente ficou por conta de um dos galos. O danadinho esperava que os passarinhos viessem “filar” as rações das galinhas e “nhóc” pegava um no bico e saía correndo pelo galinheiro todo, até sentir que o pobrezinho havia morrido.
Ainda bem que as galinhas faziam uma algazarra terrível e a gente podia salvar o passarinho. Mas, às vezes não dava tempo...
Bem, minha querida, por hoje, fico aqui, pois as lembranças foram contaminadas pela tragédia do Chile e não quero te deprimir.
Um beijo da Vó Ivonita