CARTA DE UMA SAUDADE

Hoje me encontro refém de minhas lembranças; sórdidas lembranças de um tempo em que sentávamos na calçada de sua casa para brindarmos a doce sensação de uma amizade.

Agora estou suplicando a cada estrela que surge nesse céu cinza e sem graça que apague de mim todas as lembranças que me fazem chorar.

A cada novo verso que escrevo para você sinto as lágrimas umedecerem minha face, meus lábios trêmulos e minhas mãos tonteiam buscando algo que possa me preencher.

Às vezes, recorro às lembranças, mas elas são tão perversas, são tão mesquinhas que escondo meu rosto entre minhas mãos num movimento que mais parece um desespero do que uma reação de consolo.

Acho que joguei todas aquelas palavras furteis fora, palavras inacabadas, sentimentos alienados, as torturas emocionais, as insinuações, os medos, as fraquezas, as perdas, os risos, as lágrimas, as mentiras, e o carinho infantil que sentíamos, mas tudo se tornou tão obscuro, tão indecente que não vi o que restou de nós dois.

Nacélio Rodrigues Lima
Enviado por Nacélio Rodrigues Lima em 27/02/2010
Código do texto: T2110546
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