Entalado pela banana

 
Esta historia se deu no ano de 1969, à época morávamos em Gurupi no Estado de Goiás a minha irmã mais velha tinha uns dez anos e eu tinha apenas 5 anos de idade, passávamos por alguns momentos difíceis, minha mãe era professora do ensino fundamental, e tinha que dar aula pela manhã, tarde e noite, só podia estar conosco no final da noite e nos finais de semana, então um belo dia, no horário do almoço nos sentamos à mesa e meu pai perguntou o que tinha para o almoço, minha irmã mais velha respondeu:
-só tem arroz branco!
-Por que só arroz? Interrogou meu pai.
Houve um silencio por alguns instantes e ele novamente perguntou:
-Por que só arroz?
Minha irmã com voz amedrontada disse:
- Foi o que o senhor deixou para fazer!
Neste instante ele furiosamente se levantou da mesa e esbravejou.
-Então vou mandar comprar umas bananas bem acolá e só eu vou comer, retrucou o Benedito.
Como estávamos todos almoçando, fui o escolhido para ir comprar as benditas bananas; pensei que ao chegar com as saborosas frutas, seriamos contemplados com pelo menos uma para cada um dos quatro filhos que lhe acompanhavam à mesa, me enganei completamente, pois o senhor meu pai não nos ofereceu sequer as cascas das bananas que ele degustava com tanto anseio. Naquele momento pensei que aquilo se tratava de um castigo imposto por ele por não ter nada de diferente para comer que não fosse o arroz sozinho que ele nos deixou, ora, se era ele quem tinha a obrigação de colocar o que comer dentro de casa, porque estava tão irritado? Ele que fosse providenciar a carne ou o feijão ou ainda quem sabe alguns ovos, pois o problema era que só tinha arroz branco.
Quando o Benedito terminou de almoçar e de comer as bananas que lhe satisfizeram a vontade, ele se dirigiu aos filhos e a cada um deu uma banana; posso confessar que até bem pouco tempo, mais precisamente em julho de 2005, sentia um gosto travoso da tal banana em minha boca, neste ano tirei férias e viajei com meus filhos para Goiânia, passando por Araguaína no Tocantins onde meu pai mora hoje, nesta ocasião tive a oportunidade de conversar com ele e lhe relatar o tal fato, era de se esperar que o mesmo não se lembrasse do ocorrido; pediu desculpas e ficou por isto mesmo, mas eu disse para ele;
- É papai, hoje posso lhe garantir que já consegui engolir a banana e, não sinto mais seu gosto travoso em minha boca, espero nunca ter que passar este tipo de experiência para meus filhos e nem eles para os seus.

autor: Bert Noleto
Macapá, 26 de Fevereiro de 2010.
Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 26/02/2010
Reeditado em 21/02/2017
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