CALEIDOSCÓPIO

Eu inventara um avô cujo colo me sentava e colhia meu choro, enquanto traçava com mãos pequenas as rugas do seu rosto sereno. Nesses sonhos minha mãe não derramava lágrimas e meu pai sorria na porta a cada quarto de hora.

Este era ainda mais lindo do que os sonhos que me consolavam quando era criança, onde eu imaginava tias de seios fartos, cheirando a sabonete e açúcar, e tios com sapatos brilhantes, trazendo caramelos para mim.

Eu inventara cada irmão com olhos felizes, cujo abraço era um conforto protetor para meus medos. E cada amiga tinha a boneca mais bonita do mundo.

Estas cenas rasgaram uma abertura no pequeno lugar interior onde eu amontoava velhas imagens. Limpou-o e abriu espaço para alguma coisa real.

Meu sonho, porém, era o sonho de toda criança, não?

Não era o seu sonho?

Mirea
Enviado por Mirea em 26/02/2010
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