CALEIDOSCÓPIO
Eu inventara um avô cujo colo me sentava e colhia meu choro, enquanto traçava com mãos pequenas as rugas do seu rosto sereno. Nesses sonhos minha mãe não derramava lágrimas e meu pai sorria na porta a cada quarto de hora.
Este era ainda mais lindo do que os sonhos que me consolavam quando era criança, onde eu imaginava tias de seios fartos, cheirando a sabonete e açúcar, e tios com sapatos brilhantes, trazendo caramelos para mim.
Eu inventara cada irmão com olhos felizes, cujo abraço era um conforto protetor para meus medos. E cada amiga tinha a boneca mais bonita do mundo.
Estas cenas rasgaram uma abertura no pequeno lugar interior onde eu amontoava velhas imagens. Limpou-o e abriu espaço para alguma coisa real.
Meu sonho, porém, era o sonho de toda criança, não?
Não era o seu sonho?