CARTA AOS ESQUECIDOS
Não é assim que sou, o mestiço que abri as cortinas da burguesia, que sofre as influências do “solitarismo” de Azevedo, minha fonte, do qual bebo sutilmente os versos que enobrece minha alma.
E quando teus olhos postos nos meus, tuas mãos presa às minhas sinto-a, ó minha amiga como fomos, como aquecíamos o vulgar em espírito, e a incerteza em duas partes bem exatas: ser como a tempestade que arrasta a estupidez, e como a serpente que espalha seu veneno no Éden, rosas aos sepulcros! Canto fúnebre! Cartas aos mortos! Ó grandes Deuses dos céus, abro minhas mãos, encontro nelas o que há de mais insensato, e as incertezas que flui como uma catedral no medievalismo francês.
Aqui, debaixo desse imenso cortejo de feras vacilantes: torturam o meu corpo, torturam o meu presente, mas meu futuro é impenetrável, antes disso mando uma carta aos esquecidos. E dela faz meu jugo tão leve que mal posso compreender; ser como um mestiço enraivecido, e tudo que imagino, uma noite qualquer, em qualquer lugar, quando uma canção helênica em silêncio tombar e encontrar-me atrás dos escombros, ora mesmo que meu refúgio seja eterno, e minha caveira posta no altar seja chamada santo, serei sempre humano!
Quando eu morrer, vou finalmente encontrar paz, contigo minha amada, na morada dos esquecidos, pois sei que tu sabes de minhas dores, e entende como preciso existir, sou apenas uma junção de moléculas, sou o resto de uma dor perene. Ó amada, adormeça comigo, abrace-me, fuja comigo, para um lugar distante, vivamos como outrora: eu, você e a nossa canção de amor, e os versos incompreendidos que você pusera entre as páginas 33 e 34 de Oscar Wilde, celebremos o passado, como celebramos o tédio!
Nacélio R. Lima – Santa Quitéria-CE, 24/02/2010