Crônicas anacrônicas

Meu caro Obery Rodrigues

Quero lhe agradecer pela honrosa companhia nos dias que antecederam meu carnaval e durante a folia. Eu, foliã confessa dos muitos carnavais do carnaval da Bahia, também não abro mão das minhas leituras no intervalo dela. Leio enquanto vou à praia, quando me espreguiço numa rede ou mesmo quando relaxo, antes de dormir.

Seu livro foi meu par constante por esses dias. Aliás, desde que li na escrivaninha do Mestre Raimundo Antonio referencia a ele, me encantou a alma ali descrita, me encantou o personagem sensível na escolhas dos títulos e temas, o cronista que se desenhava de olhar atento e amoroso com seu ofício, com sua terra natal e com os seus.

Aproveito para agradecer de publico ao Rai e dizer que ele não exagerou em nada do que li nos textos com que lhe reverencia. Ele, um cronista de mão cheia, soube bem reconhecer o valor do seu livro e sua indicação o credenciou junto a seus leitores, certamente agora leitores seus também, pois li o texto de sua também conterrânea Ângela Gurgel fazendo um passeio delicioso por suas crônicas nada anacrônicas, em minha modesta opinião.

Obrigada pelo livro e pela oportunidade de conhecê-lo, ainda que por essa inusitada via. Tens razão quando falas em almas irmãs na sensibilidade de ler o que nos cerca, de ressignificar cada objeto, cada sentimento, cada personagem que conhecemos. Cá entre nós, devo dizer que sempre me vi como um tipo comum e, por isso anacrônico, diante da modernidade que custo a me render.Cá entre nós também sou um” bicho-saudade” e guardo zelosamente a lembrança da menina da roça que um dia viu o mar e se apaixonou perdidamente por ele.

Embora também seja do tipo que lê um livro numa “sentada”, por alguma razão especial li o seu como quem dança uma valsa. Sem pressa alguma ele acompanhou-me na ida á praia e a piscina, no cochilo na rede e no ir e vir da viagem maceió-aracaju-salvador-aracaju.

E no apurado de mais sincronicidade, também tenho a minha Macondo. Não é assim como a sua Mossoró dos tempos idos, nem a moderna, que imagino cheia de charme, mas um pedacinho de chão encravado entre serrotes, rio, pastagens e roçado de milho e feijão. Um lugar em que habita meus sonhos e minh’alma descansa do caos urbano, se farta e se reabastece de poesia.

Adorei os seus textos eivados de referencias a outros ótimos textos, mas reli-me, em especial, no seu falar de saudades, nas lembranças que a chuva evoca, no cantar do galo que tece a manhã, no divagar sobre sonhos, na paixão pela música, pela leitura e, maravilha das maravilhas, no hábito pela escrita de cartas.

Ao terminar a leitura do livro senti-me como se fosse uma antiga vizinha, uma cliente que sentou à sua mesa de trabalho e tomou um cafezinho durante uma boa prosa. É como se as suas reminiscências também fossem minhas.Numa palavra: ADOREI!

Portanto é através desta que quero “receitar” Obery Rodrigues para meus amigos e amigas e lhes dizer do meu desejo sincero de - que Deus me permita- chegar a sua idade com tamanha lucidez, inteligência e cultura. Chegar aos 85 pleno de esperança, poesia e amorosidade e ainda guardião de boas lembranças é um feito e tanto. E, em tempo de tanta superficialidade, é um presente conhecer e poder partilhar de lições de vida como a sua.

Que Deus permaneça lhe iluminando, protegendo e, daqui de Aracaju, receba meu abraço emocionado.

Edna Lopes

Serviço

Crônicas Anacrônicas é o oitavo livro de Francisco Obery Rodrigues, mossoroense radicado em Natal, apaixonado por tudo que se refere a sua terra. Suas crônicas descrevem o sentimento universal da saudade, compreendido por qualquer idade e fazem um bem enorme. As lembranças e as saudades do autor acabam sendo um pouco nossas também. Livros através do contato com o autor: oberyrodrigues5@hotmail.com