Saudades absurdas, mãe!

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2010.

Oi mãe,

Como estão as coisas aí em cima? Espero que tudo bem. Mal começo a escrever e já toca em meu coração um sentimento muito forte. Não há dúvidas que perdura apenas uma coisa em meu peito neste exato momento: saudades. Saudades dos tempos vividos ao seu lado, mesmo que tenham sido poucos anos. Até hoje não entendo aquele seu ato da última vez que nos vimos.

Pois é... Muito tempo se passou. Estou num ano muito agitado. Ano este que definirei meu futuro. Completarei a maioridade e entrei para o rol dos que buscam vagas em Universidades Estaduais ou Federais. Sei que com calma, tudo fluirá naturalmente. Tudo se encaixará.

Mudando de assunto, Juliana tornou-se uma mulher. Ela cresceu, mas, infelizmente, não amadureceu. Seu regresso mental hoje em dia é enfrentado com naturalidade e com poucas objeções. Saiba que ela é a alegria da casa. Recebe amor e carinho de todos a sua volta. Está estudando e adora escrever –mesmo que poucas palavras aprendidas- e recortar figuras.

Ah, como seria bom sua presença aqui agora para acompanhar essas nossas fases. Não só agora, mas sua presença seria de extrema importância em todos os meus momentos, assim como nos de Natalia também.

Bom, tia Irene continua a mesma pessoa de gênio forte, muitas vezes agindo impulsivamente. Em contrapartida, soube nos educar da melhor maneira, visando sempre o melhor para Juliana e eu. De vez em quando dou umas vaciladas, sabe? Mas são coisas da idade. Atitudes peculiares de quem está prestes a completar a maioridade. Vejo-me um pouco ansioso, mas procuro controlar da melhor maneira possível.

Eventualmente deparo-me pensando em sua presença em nossas vidas. O que mudaria? Onde moraríamos? Aonde eu estudaria? Quais seriam meus amigos? Ah, falando em amigos, aprendi o que é uma amizade verdadeira e sua importância. Hoje tenho os melhores amigos mundo, com os quais compartilho os momentos mais felizes de minha vida e tenho a certeza que estarão ao meu lado em situações difíceis. Queria você aqui para lhe apresentar um por um.

A sua falta foi – e ainda é – algo irreparável em minha vida. Ah, como eu queria você ao meu lado. Queria ouvir sua voz dizendo que eu era um ótimo filho. Ouvir você dizendo que me amava. Ouvir as repressões assim que eu fizesse algo de errado. Ouvir seus apoios e, até mesmo, suas críticas. Ouvir elogios com notas altas no colégio, e puxões de orelha com baixas.

Às vezes me questiono sobre as pessoas que não valorizam a existência de suas mães, tratando-as com menosprezo e indiferença. Realmente eles não têm conhecimento do que é a perda de uma mãe e o quanto isso é doloroso. Não sabem que as mães são importantes simplesmente pelo fato de existirem.

Já faz muito tempo que você partiu. Eu era muito novo, e não tinha noção do que aconteceria dali em diante, não sabia das reais proporções.

Mas fica sossegada, pois seus filhos estão sendo bem educados por uma tia fantástica e um tio – quase pai – insubstituível. Ah, não falei dele, não é? Chama-se Roberto. Um homem pelo qual tenho imensa admiração. Cuida muito bem de mim e Juliana. Não deixa faltar nada aqui em casa. Trata-nos com imenso carinho. Um homem nota mil. Hoje eu posso dizer que um dia eu espero representar para meu filho metade do que ele representa para mim, que estarei demasiadamente feliz. Um verdadeiro pai.

Então é isso, mãe. Eu tenho um emaranhado de coisas que eu gostaria de lhe falar. Mas a distância impede que isso aconteça. Afinal, ainda não sou capaz de alcançar as estrelas para nos encontrar. Assim que puder escrevo mais coisas pra você. Um dia eu apareço por aí, mas vai demorar bastante, não precisa me esperar pra jantar.

Saudades absurdas. Com todo amor,

Luis Augusto.