A música tocada pela emissora de televisão ao anunciar uma tragédia em horário extraordinário ou plantão de telejornal, ainda soa como um grito de angústia aos meus ouvidos.

Logo nos primeiros momentos, ainda sob o choque, ficava tentando imaginar seu susto. Conseguia, até para me consolar, crer que o tempo não fora suficiente para aterrorizá-la. Afinal, tudo aconteceu em cinco minutos, tão rápido!

E tudo acabou da forma mais brutal e definitiva que a crueldade soube encontrar.

Aos poucos fui tomando consciência que anos de uma nunca tediosa convivência, aliados à sua descarada ânsia de viver e juventude vibrante, andavam lado a lado e possuíam tanto poder e força de alegrar em vida quanto de ferir com a morte.

A minha lealdade a você, que permanece intacta, me obriga a confessar que foi a sua vivacidade, o agradável alvoroço causado sempre que você chegava que tornou tudo mais doloroso e teimosamente inaceitável.

Sim, pois gostando você de ser a minha favorita em vida, como pretender que eu aceitasse que fosse tirada dela?

A ausência daqueles que amamos é sempre sofrida e a dos que com você voaram pela última vez e, em cinco minutos também se foram, feriu, machucou. Mas a sua, aniquilou.

E a minha dor, obedecendo a tão absurda quanto natural hierarquia de sofrimentos dos que ficaram, teve que ser contida e nem poderia ser maior do que a de quem gerou.

Assim, permanece calada, silenciosa, mas consolada pelas lembranças, essas independentes de escalas hierárquicas viajam livres no tempo, chegam e me encontram ainda menina, quase doze anos, e já sua tia.

Como me senti importante! Principalmente numa época em que, com doze anos, era-se realmente criança.

Essa criança baixa os olhos e tendo você nos braços, um bebê ainda, sente-se valorizada e amada como nunca e, então, ela tem a certeza que os olhos das duas não são outra coisa que não espelhos refletindo amor em idêntica intensidade.

E eu lá, criança, naquele instante com você olhando-me, não houve gradação do amor sentido e oferecido, numa troca não combinada por mim ou por você.

Hoje eu sinto você por perto, ora me olhando com aquela expressão tão familiar de querer dividir um segredo, ora gargalhando por uma bobagem ouvida.

Outras vezes é um vulto ao meu lado, bela no vestido vermelho usado na festa em que tanto rimos, especialmente uma da outra, sem sequer suspeitarmos de que seria a última.