O DÍZIMO E A LEI CERIMONIAL

Em questionamento ao meu texo DÍZIMO - CONTROVÉRSIAS DOS DITOS ADVENTISTAS LEIGOS, publicado neste meu espaço do Recanto das Letras, o leitor Fernando postou a seguinte indagação:

“Só uma pergunta: Se não existe menção no novo testamento sobre o dízimo (refiro me a obrigação de entregar 10% de sua renda à igreja), mas somente que devemos cooperar para com a obra divina com nossas riquezas materiais, e considerando a doutrina da IASD de dividir a Lei em "lei moral" e "lei cerimonial", sendo que apenas aquela estaria ainda vigente, e, por razões lógicas, ser impossível a inclusão do dízimo na primeira, como sustentá-lo dogmaticamente como exigível? PS: Espero ter o prazer de comentar alguma resposta.”

O dízimo não faz parte da Lei Cerimonial, senão ele seria um meio de obter o perdão de Deus. A Lei Cerimonial corresponde apenas ao meio de obter perdão pelos nossos pecados. Tudo o que se requeria nessa Lei era o arrependimento, a morte do arrependido e a apresentação do pagamento da dívida pelo pecado na pessoa do sacerdote diante de Deus.

O arrependimento era um ato da pessoa (a única ação que se requeria do pecador), o cordeiro ou a oferta era provida por Deus (pois um animal não é obra humana) e fazia a vez da pessoa na morte e, com os dedos manchados com o sangue da oferta, o Sumo Sacerdote fazia a vez de Cristo representando o arrependido diante de Deus no lugar Santo.

Entretanto, mesmo essa Lei (a Lei Cerimonial) foi abolida, haja vista que os adventistas estudam e ensinam sobre o Ritual do Santuário, onde Jesus foi sacrificado no lugar dos cordeiros que antes morriam no lugar dos arrependidos. Todavia, o sacrifício de Cristo é permanente, querendo dizer que seu valor não prescreve. Sendo assim, sempre que nos arrependemos do delito da vez, quando o inimigo nos acusa diante de Deus, Jesus apresenta-se ao Pai, a frente de todos os anjos do Céu, mostrando as cicatrizes nas mãos, no lado e nos pés. Então o Pai O vê pendente na cruz e todo ensangüentado, representando o pecador arrependido. Assim o Ritual permanente do Santuário repete-se simbolicamente todos os dias, várias vezes por dia, uma vez para cada pecado de cada pecador. Assim também era no Santuário terrestre.

Ao morrer Jesus, porém, o sacrifício dos cordeiros literais tornou-se inútil, pois o sacrifico ideal se consumara. Todavia, a lei Cerimonial requerendo o arrependimento, a oferta do sacrifício, o sacrifício e a intercessão Sumo Sacerdotal não foi abolida, pois Jesus é a oferta do sacrifício e o Sumo Sacerdote com o sangue do sacrifício diante e Deus no lugar Santo do Santuário do Céu.

E tanto é que a Lei Cerimonial não foi abolida que Jesus mesmo disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. – Mateus 5:17 – 19.

Portanto, nada da Lei foi abolido, apenas que o ritual da Lei Cerimonial deixou de ser observada na terra para ser observada no Santuário do Céu, do qual o Santuário que Moisés construiu era cópia.

E que Lei incluía o dízimo então? Nenhuma Lei. Entretanto, muito antes de Deus mandar Moisés construir a Tenda da Congregação e estabelecer sacerdotes e funcionários levitas para oficiarem nela, Abraão devolvia o dízimo do Senhor ao rei Melquisedeque (que a Bíblia diz que era sacerdote do Deus Altíssimo), como entendia que deveria custear o ministério religioso de seu tempo. E Jacó, seu neto, ao despertar do sonho em que viu a escada para o céu, percebendo então que Deus o acompanhava, disse-lhE que de tudo que ganhasse daria uma dízima para o ministério sacerdotal daquele tempo.

Então, se a Lei Cerimonial não foi abolida, qual Lei foi? Nenhuma Lei foi abolida. A Lei de Moisés, porém, trazia uma lei orgânica para a nação de Israel daquele tempo. Teria essa Lei então sido abolida? De forma alguma, mas ela foi evoluindo conforme a mente do povo foi sendo desbarbarizado como resultado da prática da Lei Moral, que a maioria dos cristão de agora querem abolir.

Portanto, nenhuma lei foi de fato abolida, tampouco o dízimo. Tanto é que Jesus Cristo disse “Daí a César o que é de César, referindo-se ao imposto, “e daí a Deus o que é de Deus”, referindo-se ao dízimo, e isto está no Novo Testamento. Quem o questionara na ocasião foram os fariseus a mando dos sacerdotes do Templo de Jerusalém e, se não fosse mais para devolver o dízimo, Ele teria dito que depois da Sua morte isso deixaria de valer, mas, ao contrário, Ele disse: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”. Em outra passagem do Novo Testamento Ele reiterou que devemos devolver o dízimo, quando censurou os fariseus por darem o dízimo até das plantações mais insignificantes e não terem misericórdia pelas pessoas, que são mais importantes para Deus. E Ele disse: “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas”. – Lucas 11:42.

Portanto, os adventistas dizerem que a Lei Cerimonial foi abolida é apenas uma força de expressão, pois de fato ela não foi e eles mesmos não pregam que foi. E mesmo que alguém pregue, convém prestar atenção para perceber que ele está dizendo que o ritual foi transferido do Santuário terrestre para o Santuário celeste. Logo, além que o dízimo não fazia parte da Lei Cerimonial, nenhuma Lei foi abolida. Portanto, o dízimo continua valendo, pois Jesus também estabeleceu para os cristãos o ministério pastoral e ninguém poderia estudara a Bíblia, conhecer e defender tão bem a Palavra de Deus e Seus objetivos se tivesse que buscar em outras fontes os recursos financeiros para seu sustento e para o sustento e manutenção de sua família.

Logo, devolver o dízimo não é só um ato de obediência e de gratidão, mas um ato amor ao ministério sacerdotal que foi estabelecido por Deus para salvar as pessoas.