Carta de uma Pessoa Traumatizada

A minha infância foi realmente rica de eventos. Tristemente tenho que admitir que minhas primeiras lembranças não me remetem a eventos bons e felizes, mas, bem pelo contrário, pois só lembro da quantidade de intensos momentos ruins que permearam minha meninice.

As seqüelas psicológicas causadas pelo impacto de experiências traumáticas que eu sofri quando criança foram enormes, promovendo o surgimento de medos pavorosos.

Esses traumas psicológicos afetam com grande impacto a minha qualidade de vida. Os danos emocionais que sofri se mantêm vivos em minha alma, não me deixando nenhum dia de alívio.

Não consigo esquecer tudo aquilo que passei, o que me faz sentir uma intranqüilidade gigantesca. As memórias constantes não deixam minha alma libertar-se dos sofrimentos.

Não consigo me livrar das visões. Vivo em meio aos flashes do passado, que me fazer ter pesadelos de olhos abertos. Assim, revivo os fatos malditos ocorridos no começo de minha vida.

Sempre evitei falar sobre minhas memórias traumáticas, tendo como objetivo esquecer o horror experimentado. Mas, infelizmente, o meu silêncio nunca impediu que as lembranças e as emoções dolorosas se manifestassem com toda potência no meu dia-a-dia.

Em determinados ambientes ou em contato com algumas pessoas específicas, relembro os tormentos do passado. Nessas situações, sou tomado por um medo pavoroso de que aqueles fatos possam ocorrer de novo.

Tem períodos que meu sofrimento se torna insuportável, a ponto de limitar a vida em termos gerais. Nesses casos, surgem inúmeros sintomas como memórias recorrentes do trauma.

Esse estado neurótico que tenho traz para meu interior um sentimento de insuficiência ou incapacidade para enfrentar a vida e seus problemas.

A minha vida é um sofrimento constante. Todos os dias eu tenho que reunir forças para continuar vivendo.

Minha existência é cheia de estresse. Os traumas de minha vida me conduzem recorrentemente a depressão. Às vezes penso que a minha cabeça vai explodir e meu coração vai parar por causa da dor que sinto. Tem dias que fico zonzo e sinto minhas têmporas latejarem com furor ... tudo isso afeta o meu comportamento intensamente.

Por causa desses traumas horríveis, sou uma pessoa confusa e insegura. Muitas vezes, passo dias com medo de por os pés para fora de casa. É realmente difícil ter de encarar o mundo de frente.

Vivo em meio ao desespero. Não tenho domínio próprio daquilo que se passa comigo. A falta de controle pessoal e a alienação aos outros me fazem viver níveis elevados de tristeza e melancolia.

Sou incapaz de confiar em outras pessoas, o que me leva a ter dificuldades em fazer amigos. Assim, sofro distanciamento afetivo, tenho pensamentos indesejáveis, sinto insônia e tenho irritações constantes.

Sempre fui uma pessoa complexada e vivi todos esses anos amedrontado pelas idéias de rejeição e abandono.

Freqüentemente chego a pensar que minha dor é algo incurável, uma sina que tenho que carregar por toda vida. Já ouvi alguém dizer que esse sofrimento que estou passando é algo imutável, uma parte de meu destino, uma coisa da qual não posso me desprender.

Durante toda minha vida convivi com esse sofrimento, mas, mesmo assim, não acredito nessa idéia. Não sei explicar ao certo, mas é como se uma centelha de esperança em meu coração me dissesse que é possível viver uma vida diferente.

O meu maior sonho é poder um dia ter uma vida normal. Realmente desejo de todo coração recuperar-me dessas experiências negativa, sem vivenciar essas dores significativas. Espero encontrar ajuda para livrar-me de tamanho tormento !!!

Breves - PA, 05 de fevereiro de 2010.

João Vale dos Santos

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Ilha de Marajó – PA, Fevereiro de 2010.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 05/02/2010
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