Sistema de Cotas (resposta a reportagem na revista Veja, edição antiga)
Sistema de Cotas
As jornalistas, Rosana Zakali e Leoleli Camargo, estão desinformadas: o sistema de cotas, na educação, não avalia as pessoas pela cor da pele, muito ao contrário, TENTA corrigir uma discriminação que ocorreu há mais de cinco séculos com base, sim, na cor da pele e que gera diferenças sociais até hoje. A dificuldade que as Instituições estão tendo em avaliar ou identificar os pretendentes das vagas não significa que a reserva de vagas seja injusta, ou racista, ou discriminatória. Racista é quem insiste em não entender que um dos objetivos do Sistema de Cotas é equidade e não classificar pessoas, como essas profissionais estão fazendo ao comparar a tentativa de se dividir vagas nas universidades, dando um pouco mais para quem tem menos, com a tentativa de Hitler de apurar a raça alemã. Somente elas estão indo buscar justificativas nos conceitos da biologia e genética para a intenção simples de corrigir um erro cometido pelos primeiros brancos que habitaram esse país e que foi percebido, mas não corrigido, ao longo dos anos por todos nós. Quero lembrá-las, mais uma vez, que não se trata de raça ou genética, ou potencial intelectual, mas sim de distribuir entre essas pessoas, que tiveram seus antepassados arrancados de suas terras, onde tinham tudo, incluindo sabedoria e poder, e trazidos para cá à força e, aqui privados de qualquer direito incluindo o estudo , a aquisição de bens em seu nome, considerados, como vocês gostam, espécies inferiores. Bom seria se pudéssemos voltar no tempo e deixá-los no seu continente onde eram reis ou trazê-los como foi feito com muitos brancos, oferecendo-lhes terra para que pudessem produzir. Mas como isso é impossível, resta-nos oferecer aos seus descendentes, escola de graça para que possam adquirir títulos e provar que são capazes.
A lei que regulamenta o sistema de cotas não institucionaliza o cisma racial, não, Rosana e Leoleli, apenas assume que a desigualdade existe e tenta reduzi-la. É uma vergonha, sim, que metade das vagas só possam ser ocupadas por negros através de leis. Hoje a grande maioria das vagas é de branco e ninguém acha uma vergonha, parece justo. Admira-me duas profissionais especialistas na escrita, e acredito que na leitura, chamarem de mérito a capacidade de os brancos ocuparem mais vagas que negros nas universidades. Vocês não sabiam, mas nas certidões de nascimento, nos prontuários médicos e em vários documentos oficiais já existem a informação da raça do individuo, isso não é proposto por esta Lei, não. Vocês não sabem, mas na saúde existe SUS, Sistema Único de Saúde, onde um dos princípios é dar mais para quem tem menos, o Sistema de Cotas está longe de ser um SUS, mas pretende dar mais vagas para quem tem menos chances de consegui-las, não por incapacidade, mas por ter ancestrais analfabetos e por terem sido alfabetizados nas escolas de má qualidade e à noite, após o trabalho.
O sistema de cotas incomoda muita gente que nega a discriminação do dia-a-dia. Sei que a avaliação e escolha de quem realmente merece essas vagas não serão tarefas das mais fáceis, pois nunca tanta gente desejou ser negro. Mas é um passo, o primeiro, que precisava ser dado. Vocês erram de novo, minhas caras, quando dizem que após a abolição nunca houve barreiras institucionais aos negros. A liberdade dos negros nunca foi aceita pelos povos da época. Hoje não se fala mais da negra que não apareceu para limpar a casa, nem do negro para pisar milho, mas se acha natural não ter negros na faculdade, é estranho oferecer vaga na Universidade para negro. As circunstancias históricas predispõem aos brancos, melhor ascensão social se comparados aos negros.
O país para se desenvolver não precisa mudar a raça de seu povo, mas precisa educá-lo, o negro não quer só amizade, quer respeito e as mesmas armas para lutar pelo espaço no mercado de trabalho e na sociedade de igual para igual. Quando todos estiverem estudado, com profissão, com chances iguais, poderemos falar em mérito individual, por enquanto essa fala soa hipócrita. Pergunte aos negros que enchem as cadeias se eles sabem o que é um gene e qual a escolaridade de seus pais? O que está em questão não é a genética, mas o conhecimento do individuo sobre direito e cidadania. Até no crime os brancos levam vantagem porque que dificilmente se vê um colarinho branco, negro.