Sabe, na sua ausência, adquiri estranhos hábitos e aprendi coisas exóticas como, por exemplo, rir de mim mesma, das pequenas besteiras e até do meu jeito desajeitado.

Hoje, xingo sem pudor quando bato o joelho na poltrona que insisto em deixar no mesmo lugar. Não precisa fazer essa cara de horror, pois o máximo que falo é um “merda” e, sabe que ajuda a aliviar a dor?

Certo, repito o palavrão quando vejo a mancha roxa que ficou, confesso, mas dessa vez é quase um sussurro, pois a dor já nem é mais sentida.

Agora corro como uma maratonista à procura do “sem fio” quando toca o telefone, sem receio de ser criticada, permitindo-me a estranha mania de não atender em outro aparelho.

Você não entende isso, eu bem sei, mas as manias são manias justamente porque não prescindem, necessariamente, de explicação.

Ah, sim, a poltrona voltou ao lugar em que eu sempre quis que ficasse, pois no outro, aquele em que você colocou perdeu sua graça e ficava quase escondida. Prefiro continuar vulnerável às manchas roxas.

Cultivo, agora livremente, o hábito de olhar CD’s nas tardes de sábado, mas agora, compro aqueles que quero. Sabe, confesso que, na primeira vez em que fiz isso sem você, estranhei a ausência de alguém tentando convencer-me a levar outros, diferentes dos que eu tinha escolhido.

Ainda estranho, também, não ouvir alguém dizer que não entende porque eu gosto de determinadas músicas sem conseguir expressar um argumento válido ou defeito dos meus “Chicos”, “Caetanos”, “Djavans”, “Toquinhos”, “Vinicius”, “Ritas”, "Marisas", "Elis" e...bom, listar todos seria um desafio ao qual me nego.

Penso que, de resto, pouca coisa mudou; ouço e retribuo as simpáticas brincadeiras do porteiro da manhã, conheço, agora pessoalmente, o do turno da noite, troco lâmpadas queimadas, tenho uma caixa de ferramentas, leio o jornal onde e quando quero e, às vezes, penso em como poderia ter sido “se”.
           Como acabei de fazer agora.

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