Carta aos meus colegas da Facul...

Belém, 29 de janeiro de 2010

Caros Colegas...

Já são quase dois anos que nós nos esbarramos todas as noites, exceto sábados, domingos e feriados, o destino nos colocou todos no mesmo barco, ou seja, todos na mesma sala de aula, numa turma do curso de turismo. É possível que alguns ali já tenham, outrora, passado por experiência semelhante e estejam numa faculdade pela segunda ou terceira vez, entretanto, esta é a minha primeira vez, confesso que apesar de tudo tem sido uma experiência enriquecedora e prazerosa para mim. Hoje compreendo que lidar com seres humanos diferentes no meio de tantas adversidades no dia a dia nos dá respaldo para aceitar, compreender e até mesmo viver melhor a vida, porque o outro sempre nos trás conhecimento e o aprendizado é recíproco.

Entretanto, algo ainda me inquieta, nos primeiros meses de aula, eu toda feliz achando que tudo ia ser muito recompensador para todos e logo no princípio surge pequenos conflitos que aos olhos de nossos mestres era porque ainda estávamos em fase de conhecimento e adaptação, logo em seguida entra a Professora Elizabeth, com sua disciplina Técnica de Recreação, para tentar apaziguar os ânimos de nossa turma. De repente todos na faculdade estavam falando da gente, lembram? Alguém sempre falava que nos faltava maturidade outros diziam que a turma era muito cheia de pluralidade, bem quanto amadurecimento, este está demorando um pouco não é mesmo, só eu tenho quarenta e uns e não sou a mais velha da turma, sabemos que estamos adultos até demais...

Sabem, colegas eu era a ingênua da parada, quando ingressei naquela faculdade ainda tinha sonhos e esperanças de fazer boas amizades, sincera e duradoura, portanto, somente eu disponibilizava material, dava recados, emprestava objetos, atendo sempre o celular e como costumo dizer na minha casa só não atenderei o celular se estiver dormindo ou dirigindo, porque até mesmo brincando de papai e mamãe (risos, para não dizer outra coisa) atenderei o bendito aparelho.

Entretanto, vejo que a recíproca não é verdadeira, compreendo que quem cria os monstros somos nós mesmos, sabem aquela coisa de mercenário, o indivíduo é treinado para matar? Depois ele não volta mais ao normal... Aquilo tudo é treinamento... Temo estar sendo treinada, não para matar, mas, para desbancar a menina ingênua que ainda residia dentro de mim.

Lembro de uma vez que nossa Professora Débora estava proferindo uma aula de Português Instrumental e falava termos coloquiais usados no Brasil fazendo analogia com os usados em Portugal, naquele momento relatei algo que a deu a entender para a turma toda que eu já havia feito uma viagem à Europa, precisamente, Portugal, a terra de meu falecido pai, notei os “cochichos”, os olhares, a maledicência. Sim, eu já fiz essa viagem, contudo, isso não me faz ser melhor do que ninguém, não me orgulho disso no mal sentido, sempre trabalhei duro para criar meus filhos e para não deixar faltar nada para eles, eu sou uma pessoa, tenho sentimentos, não sou insana e nem oca por dentro para achar que uma viagem me faz ser melhor ou pior do que o outro.

Acredito que nunca enviarei esta carta, mas se alguns ou todos tiverem acesso a ela, também não me importarei, de repente ela pode até servir de apelo para aproximar a nossa turma, quando será que atingiremos esta maturidade? No dia da formatura? Ao longo destes dois anos tenho conhecido pessoas em palestras, congressos, até mesmo no Fórum Social Mundial, todos da nossa área e até de outras faculdades e quando conto ocorrido, quase sempre é motivo de admiração, alguns concordam com as adversidades do princípio, mas, acreditam já eram para ter sanado.

Este espaço do Recanto das Letras é onde exorcizo os meus sentimentos, aqui pode tudo, raiva, mágoa, tristezas e alegrias, dores e prazeres e, portanto, peremptoriamente, antagônica a esconder ou camuflar os meus sentimentos exponho esta carta relato, não na esperança de captar pessoas que estejam do meu lado, mas simplesmente, deixar-me conhecer por aqueles que lerem a carta sejam eles da turma ou não, pois aqui este espaço é meu e faço dele o que eu quiser... Nesse momento, me desculpem a minha falta de modéstia... Mas é assim escrevendo que me julgo um pouquinho acima da média... Haja vista, o trabalho de oitenta laudas que eu escrevi sozinha, numa equipe de sete pessoas (baixou um diabinho que me fez falar isso); até porque estou longe de ser a Santa Pat... Apenas quero união, respeito e dignidade, beijos carinhosos a todos e todas que tiverem acesso a esta carta e em tempo, porque ainda é Janeiro “Feliz Ano Novo”.

Patrícia P Ventura
Enviado por Patrícia P Ventura em 30/01/2010
Reeditado em 30/01/2010
Código do texto: T2059166
Classificação de conteúdo: seguro