Que sirva de prefácio...

Que sirva de prefácio

Adeus senhores! Àquele cuja vida foi breve, a dor será longa... (Santa Cruz)

Chora e sonha e espera: a negra sina

Talvez no céu se apague em purpurina

Alvorada de amor...

E eu acorde no céu num teu abraço

E repouse tremendo em teu regaço

Teu pobre sonhador!

(Álvares de Azevedo)

Certo dia, caminhando pensativo pela querida natura de minha doce Aclimação, tive vontade de chorar; Seria um choro amargo, rebelde, daqueles que arrastam o corpo ao leito, por não suportar o peso d´alma.

Sentia-me o mais desditoso das criaturas, Ó Deus, como pesava-me a vida em escabrosa confluência de horrores e pejava-me a face lânguida ante a visão tormentosa do mundo - Orei!

Não longe, percebi as flores mimosas exalando suaves aromas em eflúvios de amor, no sublime espetáculo de Gaia.

E ao fitar o vastíssimo céu, durante o magnífico crepúsculo, em que a abóboda celeste preparava-se para receber as estrelas fulgurantes, como pingos luminosos das regiões etéreas, pude ver o sol morrer no firmamento, perdendo-se no profundo horizonte, na esperança de um novo amanhecer!

Tal como, as vozes dos diálogos inteligíveis dos seres que caminhavam despreocupados, desmaiavam sem ecos, e nada obstante, continuavam dialogando.

De pés descalços sobre os vergéis amigos, senti-me flutuando sobre um lençol de alvas nuvens, envolto pela musa vaporosa chamada "Esperança" - Consolei-me!

Assim como a cigarra que ao entoar seu sôfrego canto, preludia a própria morte, trago a lume meus pobres e inaudíveis cantos:

- Como um sol sem brilhos, que ainda assim nasce!

- Como uma voz sem ecos, que ainda assim canta!

São palavras mortas, que deposito sobre meu peito opresso, na câmara mortuária de minha triste mocidade.

São vagidos! perdoai-vos! pois não possuem a opulência diáfana do vetusto coral angélico que nos precederam na gloriosa missão chamada "Poesia".

Deus é testemunha de minha boa vontade...

Vale!

Santa Cruz