A Voz

Epístola - Post Mortem...

Sentado, contemplo meu mundo,

Sem salvação, lanço minha alma...

Ao desafeto de toda vida,

Ao exílio eterno, onde apenas serei lembrança,

Algo grita freneticamente dentro de mim,

- Insano, incompreensível, imaturo,

- Desleal à natureza humana,

Finjo não ouvir,

Distraio-me ao som de Pink Floyd,

Comfortably Numb, ecoa por estas paredes,

Confortavelmente entorpecido, é como me sinto agora,

A voz, insistente, ainda grita excessivamente,

- ainda há tempo para pensar...

Sem hesitar puxo o gatilho,

Não quero ouvir mais esta voz,

O som, ainda ecoa baixo, aos meus ouvidos,

O silencio vem sorrateiro e sem pressa, me envolve,

O gosto de sangue adoça minha boca,

Os pensamentos ficam confusos,

E por fim, me vejo envolto, nos braços da morte.

Acordo em meio ao silencio,

Não existe luz para guiar-me,

Ninguém para me encontrar,

Nenhum parente, nenhum vizinho,

De repente ouço vozes embaralhadas que chamam a minha atenção,

Alguns familiares, policias e médicos,

Alguns mau dizendo,

- Agora temos que enterrar, até morto nos deixa prejuízo,

Alguns choram, sem entender a beleza e o encanto de não viver,

Tudo passa rápido demais,

Agora,

Vejo minha filha brincando sem saber,

Queria lhe falar para não chorar, quando vier, a saber,

Sabendo que é impossível,

Deixei meu legado, em escritas,

Embora, ela esteja olhando, parada, em minha direção,

Será que as crianças realmente podem ver os mortos?

Então ouço ela dizer...

- Papai...

Apontando com dedo,

A Sua voz,

Soa, igual a voz, que irredutível, tentou me impedir,

Antes tivesse ouvido a voz,

Antes não disparasse o revolver,

Era Luana, sempre foi ela, Inconscientemente, me pedindo, para não a abandonar,

Se eu tivesse lagrimas, de certo choraria,

E abraçaria aquela menina, como, se fosse a ultima vez,

A cada último segundo,

A mãe, diz, para ela parar, pois, ela aponta para o vazio,

Então elevo o dedo até a boca, como sinal de silencio,

Ela se cala, vejo lagrimas caírem dos seus olhos,

A sua tristeza, mata-me...

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 27/01/2010
Reeditado em 27/01/2010
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