CARTA AO MEU "EU".

Meu estimado “eu”. Hoje mas que nunca, observo como a vida nada mais é que nuvens a brincarem de formar desenhos no céu de nossa existência... Sinto-me como uma dessas microscópicas gotículas d’água a flainar pelo infinito de meus horizontes.

Talvez o não saber onde irei desaguar é que faça com que a viagem torne-se insólita em si mesma e faça com que eu suporte os subterfúgios sociais desse “Admirável mundo novo”, onde já não se observa a plenitude sentimental da chuva... Da neve branca como a alma... Do orvalho em teu brilho ao amanhecer...

Somos um único organismo. Genético-mental, carnal-espiritual, homem e pensamento. Não há como decantar essa dualidade individual. E seguiremos até o ultimo instante de nossa jornada. E, pelo que lhe conheço, (Sempre conhecemos bem pouco a nós mesmos...) talvez nunca façamos aquilo que todos esperam que façamos... E, no seio de nosso convívio, a expectativa em torno dessa equação chega a ser tragicômica.

Viajamos com Cervantes não como leitores, mas, como Don Quixote de La Mancha! Até porque, quem seria a nossa Dulcinéia de Toboso? E os gigantes tornaram-se ainda mais poderosos, agora travestidos não de moinhos gigantes... Hoje passam a imagem de fidedignos cidadãos... E, todos sabem o que ocorre quando os sonhos (Não confundir com consumo) morrem por conta dessa apneia moral...

Quem sabe se não seria melhor para nós se nos tornássemos “Gregório Samsa”? Ser um pouco Kafkaniano não faz mal a ninguém... É melhor ser louco por uma metamorfose pessoal do que um mentecapto pária de conceitos externos...

Ah... Meu caro “eu”. O melhor mesmo é seguirmos nosso destino com dignidade. Sem Carl Jung, pois ser Freud é Froid... Sem Thomas Mann, Shakespeare, João do Rio, Assis Brasil, Aldous Huxley, George Orwel, Monteiro Lobato, Glauco Matoso, Paulo Leminski... E tantos outros que moldaram nossa una-dignidade. O que temos a fazer é seguirmos sendo essa gotícula d’água que, mesmo sem rumo, saboreia a cada instante, o florescer do tornar-se chuva...

LEILSON LEÃO