Reflexões de uma alma masculina

Aqui tento refletir sobre momentos, sentimentos, atitudes de alguém que foi importante em minha vida. Tento me transportar à sua alma, tentando com isso compreender tudo que aconteceu. Foi um texto escrito com lágrimas nos olhos, pois parecia ser o próprio narrador aqui falando. E de como tudo isso marcou duas almas que só queriam se completar, se compreender, se entregarem, mas que não conseguiram conciliar os egos, alter egos e pequenas desavenças, que se tornaram tão intransponíveis. Se é assim que alguém do passado se sente, não sei. Mas foi o que o instinto me passou. Beijos

Minha alma masculina

O que fiz de minha vida? Ou o que fiz com alguém que me amou ou então era tão apaixonada por mim? Agora sei o quanto perdi, o quanto estou só, amargurado, na solidão desta casa, sem sua voz, sem sua companhia e seu prazer de estar comigo. Como fui insensível ao magoar tanto quem só queria o meu bem, minha felicidade. Sinto hoje no meu peito angustiado, tudo que perdi, toda a pretensa felicidade que teria, se não fosse tão duro, tão arrogante, tão egoísta. Conheci esse amor, essa paixão num encontro de iguais, e recordando um texto lido há alguns dias atrás, “a vida tem momentos inacreditáveis: el primer cruce de miradas entre um hombre y una mujer que se enamoran” (um primeiro cruzamento de olhares entre uma homem e uma mulher que se enamoram). E foi assim que eu a conheci. Com seu cabelo curtinho, seu sorriso tão espontâneo, seu olhar encontrando o meu, numa reunião onde todos tinham a mesma profissão e nem sabíamos o que iria nos acontecer naquela semana inteira de atividades. Percebíamos sem dizer nada que éramos parecidos. Quase a mesma idade, mesmos gostos pela cultura, e conceitos sobre os parceiros de turma. Mas o encontro terminou perto do Carnaval, no ano de 2009 e as trocas de praxe, nos deram a certeza de futuros encontros possíveis. E assim aconteceu.

Nas trocas de emails, passamos a teclar quase todos os dias, pois morávamos em cidades diferentes, nos encantando mutuamente com as palavras que definiram conceitos, esperanças, amizades, desejos, versos, um apaixonante contato diário que nos levaria com certeza a um encontro carnal, e isso não demoraria a acontecer. E o encontro foi com beijo cinematográfico, me surpreendendo em plena rodoviária, com minha timidez de menino, de moleque encontrando a primeira namorada. Foi especial em tudo, mundialmente falando, já que haveria a “Hora do Planeta”, quando muitos iriam apagar todas as luzes e ficar à luz de velas durante uma hora, como alerta ambiental. E assim foi o começo de nossa primeira noite.

Hoje, na mais completa solidão, revejo tantas palavras trocadas nas intermináveis horas de conexão, e relembro como fui espontâneo, como me abri, “embala meu peito, vem de mansinho, aproxima-se assim. Adentra em meu corpo, mostra-me a luz, ilumina minha vida. Gera a beleza escondida, aqui...dentro de mim.” Foram os primeiros versos, de uma alma anteriormente angustiada que começava a se abrir. “sinta minha voz na madrugada. Se o vento não me levar, as palavras levarão até você... é saber da existência de nós dois.”

Eram:

"Conversas divertidas

Risos isolados

E a noite passa...

Papo cabeça

Algumas besteiras

Já é tarde...

Desejos ardentes

No corpo da gente

Que não passa...

Entre sem bater

Chegue de mansinho

A porta está aberta

À sua espera..."

Quantas vezes lhe repeti, “se ainda não nos encontramos é que não posso no momento, estou tão afim quanto você”. Mas as conversas eram por demais excitantes, “um creme que deixa o corpo macio e faz a gente querer mordê-lo todinho.” Tão parecidas eram nossas almas, nossos pensamentos. Vínhamos de relações conturbadas, de longos períodos de solteirice, de distanciamento para novas tentativas de amar e ser amados, então o encontro foi inevitável, embora minha situação financeira fosse quase um flagelo. Tinha como propósito para 2009, “Quero trabalhar como nunca na vida.”

Estava tão envolvido com essa possibilidade, que a falta de contato, por questões de conexão ou falha no lap top me fez escrever desesperado:

“Desespero total

É o fim!

O que faço agora?

Vou ficar alguns dias...

Algumas horas...

Alguns minutos...

Alguns segundos...

Sem você

Maldita criação...

Maldita dependência...

Não importa

Criaram a máquina

Que felizmente é frágil

Mas não invadiu a minha mente

Que estará ligada por fios invisíveis

Totalmente conectados em você

Bendito seja quem inventou o poder da mente

Amanhã

Daqui a uma hora

Daqui alguns minutos

E nesse exato momento estarei com você

Bendito quem lhe fez

Bendita a sua existência

Bendita a vontade de estar com você

Maldita a criação da máquina!

Mas se não fosse ela...

Seríamos apenas lembranças

Bendita máquina

Bendito dia

Bendita a hora que estive com você

Benditos sejam todos os dias de nossa existência

Bendita mulher

Que invadiu meu peito

Numa transmissão telepática

Auxiliada pela máquina.

Bendito o futuro

Bendito o nosso encontro

Bendito os nosso beijos

Haja o que houver

Bendito nós dois.”

Quantas vezes, demorávamos para nos despedir, altas horas da noite, quase madrugada, e os dois com compromissos logo de manhã cedo, mas o prazer era infinito, os papos envolventes e, “um beijo, já me despedi várias vezes, um beijo nesse corpo cheiroso, pense que estou ai dando muitos beijinhos, começando no pé e caminhando entre suas coxas e a sua pele sentindo o meu respirar...”

A distância me angustiava, pois sou escorpiano e como um , sou ciumento. Ela era uma mulher independente, antenada, corajosa, lutadora e incrivelmente sedutora, com seu olhar e seu sorriso tão sincero. “se for para a noitada hoje, me avisa no msn, assim não fico como bobo te esperando...” “...e as nossas conversas estão deixando esse encontro cada vez mais interessante. Você não acha?...Você me transmite, mesmo escondendo, sentimentos que admiro numa mulher... você é forte e decidida (dá medo), frágil e doce (quando quer)..."

Esse era meu encantamento, minha fragilidade de macho ao lembrar, fechar os olhos e sonhar com essa mulher, esse presente do cosmos que viria alegrar minha vida por algum tempo, e que por estupidez e egoísmo, deixei ir embora. Vislumbrava o encontro, desejando intensamente “...vai ter uma dose de carinho, sedução romantismo, né?.. Minha ansiedade me fazia meloso.

Quando meu lado racional me avisava dos atritos que poderiam existir, das neuras que poderiam aparecer, me questionava sobre meu estado de espírito:

“Digo não,

Mas quem sabe....

Não! Quer dizer talvez

(às vezes)

Talvez?!

Quer dizer sim

(eu acho)

Então porque digo não?

Não sei!

Talvez quero dizer sim

(sei lá)

Digo sim ao não

O talvez ao sim

Que confusão!

É esse meu coração!

A noite

Lá, somente lá

Estão os meus desejos.”

Mas meu jeito de ser, acostumado a solidão, qualquer hora iria despertar a ira de estar acompanhado por tanto tempo, embora a pessoa só me fizesse bem. Meu espírito revoltado com o mundo, minha irritação com as pessoas iria aflorar e com certeza falaria tudo que me viesse à cabeça sem perceber se estaria magoando ou não àquela que tinha tanto carinho por mim. Mas que poderia fazer? É de minha natureza. “...casa vazia, espaço na cama... um beijo, tenha paciência comigo, sou esquisito, mas vivo aqui sozinho por muito tempo, acho que sou diferente das outras pessoas, se eu pudesse viveria numa ilha. Não gosto de gente. Sou chato. Não tenho paciência....Queria você aqui comigo para ouvir meus roncos.”

Sou ruim com as falas, com as palavras ditas, “...sou mais compreendido escrevendo do que falando.”

“Transcender é necessário nessa vida inútil.

Coitados de quem pensa o contrário!

Afivelados num conceito destrutivo

Vivem aqueles que não sabem amar

Preocupados com a frivolidade adquirida

Descartam de seus próprios sentimentos

O verdadeiro ser e querer

Crédulos na inutilidade da vida

Sofrem a cada amanhecer

Esquecem que vincos aparecerão

Num perfeito caminhar

Partes ficam amorfas

Num esquecido desejar

Transcender é preciso nessa vida fútil

Coitados...coitados de quem pensa o contrário...coitados”

E agora o que tenho para aplacar minhas lembranças e minha saudade? Absolutamente nada. Nunca gostei de tirar retratos, desde a infância, nunca permiti que me tirassem uma foto, nunca me dispus a presenteá-la com uma foto de nós dois, apesar de saber que isso era um grande desejo dela, já que adorava fotografia e marcar momentos felizes, seja com quem quer que fosse. Agora como posso recordar, olhar, chorar se for preciso, se não há nada que eu possa rever? Manusear, passar horas e me castigar emocionalmente por tê-la perdido? Gosto de gordinha, ela era assim, mas uma bem distribuída, e que sabia ser sensual quando queria. “Você não agüenta caminhar, ta gordinha, ta gostosa, gosto assim, gordinha.” Eu pedia e ela fazia o que fosse possível para me agradar e me fazer feliz.”...submissão, vejo de outra forma, de amar, de gostar, de querer.” Com minha grosseria, não media palavras, “...se tenho que falar com uma mulher, gosto de falar cara a cara.” Suas constantes decepções comigo, lhe cortavam o coração, mas era difícil admitir, “... que também estava gostando de estar com você...já estava me livrando de algumas atitudes de me esconder, de não mostrar sentimento...mas acho que não vale a pena...pois você me deixou feito bobo...quero ficar na minha...achei que com você poderia ser diferente...mas acho que é tudo igual, me enganei...” E assim com esse tratamento que lhe dava, as coisas foram piorando, minha paciência se esgotando, ela se sentindo menosprezada, desiludida. Quantas vezes tentei ser mais gentil, “...diga logo baixinha, deixa de ficar fazendo doce.” Mas a alma desse sujeito rabugento, insensível, que hoje reflete sobre o amor perdido, já estava impregnada de rancor com o mundo, de indiferença pelas dores alheias, pelo choro de mulher histérica, ao meu ver, por tudo que está ligado à relacionamento a dois. Incapaz de doação, de abrir mão de algumas coisas para ser e fazer feliz a uma outra pessoa, pois queria muito “...eu prefiro a paz como presente, a solidão, a mesmice da minha casa, os meus pensamentos, já não reclamo de mais nada, não sou questão, não sou resposta, não sou nada, prefiro não ser nada para ninguém, é melhor assim.”

Nossa relação se estremecia nas horas de conexão, por palavras mal interpretadas, já que geralmente na internet se abole as regras de pontuação e um Não colocado sem vírgulas, torna toda a frase um complicador nos diálogos. E assim aconteceram algumas vezes, e ela sempre com a maior compreensão, com inúmeras tentativas de colocar panos quentes, amenizar a situação, pois sua frase preferida era “...pelo prazer de estar junto.” Hoje reconheço que fui uma companhia carnal difícil, tentar me alegrar, não me aborrecer passava sempre pela sua mente e coração, pois gostava de estarmos juntos, fazer amor, (eu também, admito), passar horas, às vezes no silencio, e sem nada para fazer, mas valia a presença. E nessas voltas às boas, pactuávamos que seria só sexo e amizade. Mas duvido que para ela fosse só isso, sua alegria, disposição de percorrer kilómetros até minha cidade, minha casa, não se pagava apenas com isso. E eu na minha estupidez não percebi toda essa dedicação, o significado completo do “simples prazer de estar junto” e fui duro, magoei, fui cruel, e fiz com que derramasse lágrimas e mais lágrimas, pedisse desculpes e mais desculpes, escrevesse enormes textos se explicando. Realmente, não dei valor, sugerindo “...você quer ser minha amiga de trepação, amiga de cama, mas sem cobranças, sem posse, mas com honestidade, ou seja, sem trepar com mais ninguém, respeito mútuo? Como pude ser assim? E os desejos dela? E os sentimentos tão intensos por mim? Mas eu tinha em mente que “... não vou falar coisas bobas, não vou ter sentimentos babacas por ninguém, isso deixo para as poesias. Você mesmo disse que sou silencioso.”

E o que tenho aqui? Casa vazia, eu no lap top, ouvindo a tv sem prestar atenção, buscando besteiras até o sono chegar, mas que sempre demora a vir. Então a madrugada é minha companheira constante. Meu café sempre a mão, meu cigarro aceso mais de vinte vezes por dia. Meu aborrecimento com o mundo, minhas dores. Essa é minha vida. Escolhi que fosse assim, afastando a maioria das pessoas que tentaram me fazer feliz, ou então que gostaram de mim. Qual o valor que dei à elas? Qual a retribuição, o agradecimento por terem tido a boa vontade de me aturar, mesmo que por algum tempo. Valeu para elas terem me conhecido? Levaram boas lembranças? Momentos felizes ou as fiz sofrer mais do que as alegrei? Não sei e creio que nunca saberei as respostas. O que sei com toda a minha alma, com todo o meu corpo envelhecido e incapaz de suportar-me completamente, é que estou só, bastante só. E pior de tudo, é reconhecer que construí essa solidão criando desafetos, desamor àqueles à quem deveria agradecer terem me dado seus sentimentos mais puros, mais dadivosos. Sou completamente culpado por essa situação. Tenho passado minha vida nesses últimos anos assim, no silêncio, com lágrimas nos olhos que ninguém vê, com “...alergia emocional, que me ataca quando me aborreço, fico sem ar, fico péssimo, não faço nada..” Mas mantenho minha pose social, e o mundo nunca saberá se sofro e quanto sofro.

Fui uma “Paixão momentânea” para alguém, que me quis tanto, que se doou tanto, mas eu mesmo não me perdoaria se estivesse em seu lugar. Espero de todo o meu coração que ela tenha me esquecido e não chore mais por mim, mas também espero que tenha sobrado um pouquinho de espaço em seu coração para os momentos que passamos juntos, embora nunca lhe tenha dito, foram muito felizes, muito prazerosos. Me desculpe, não, me Perdoe” Mulher antenada"!

irenefreitas
Enviado por irenefreitas em 25/01/2010
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T2049207
Classificação de conteúdo: seguro
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