A última carta
A ÚLTIMA CARTA
Nada mais tenho a te dizer, senão falar da tristeza que restou desta nossa caminhada que já chega ao fim. A estrada acabou. Chegamos ao seu limite. Os anos pesaram e força nos faltou para darmos mais alguns passos à frente, em busca de algumas gotas de felicidade que pairassem na atmosfera pesada que nos envolveu, pois a vida já não tem mais graça. Nada mais sorrir para nós. Não há mais os sóis brilhantes que iluminaram os nossos primeiros dias. As nossas manhãs tornaram-se invernosas e as noites se fecham na escuridão do nosso indiferentismo. E eu fico a imaginar que tão bom teria sido se tudo tivesse terminado como foi no começo, quando o amor parecia florescer, dando frutos para o futuro (que não floresceu), fazendo de nós, como eu desejei, um casal modelo, exemplar, um paradigma para outros que também caminham para os dias das incertezas da velhice. Aquela parceria, o companheirismo, a cumplicidade, os mesmos desejos pareciam florir o nosso jardim, no início, naquele momento em que plantamos tudo aquilo naquele “10 de janeiro”, que não esqueço, que já vai longe, que hoje se enche de flores e folhas murchas e retorcidas, levadas pelos ventos da nossa frieza, envolvidos que fomos por momentos tempestivos. A calmaria pouco durou. Quando houve, foi maravilhoso. Sonhávamos acordados. Havia beijos e abraços, trocas de meiguice, palavras doces. Hoje, lamentavelmente, só há trocas de críticas, imperfeições e... impropérios. As nossas virtudes nisto se transformaram. Somos, na verdade, apenas dois carentes de compreensão, necessitados de justiça, de reconhecimento, enfim, de afeto, que não soubemos trocar um com o outro. Nada mais tenho a te dizer, a não ser que a morte, muito em breve, vai nos levar. Ou eu primeiro, ou a ti, quem sabe? E aí, para um de nós que ficar, talvez reste a lembrança (ou a saudade?) que leve (tu ou eu) a acreditar que o verdadeiro amor, se tivesse existido, teria evitado o terremoto que destruiu boa parte da nossa convivência. E aquelas almas-gêmeas que parecíamos ser de início, por certo, um dia, continuarão juntas no Céu, nos festejos dos anjos, arcanjos e querubins se Deus, na Sua bondade, perdoar as nossas ofensas! Ou a morte será o nosso merecido castigo. Esta, então, é a minha última carta.
A ÚLTIMA CARTA
Nada mais tenho a te dizer, senão falar da tristeza que restou desta nossa caminhada que já chega ao fim. A estrada acabou. Chegamos ao seu limite. Os anos pesaram e força nos faltou para darmos mais alguns passos à frente, em busca de algumas gotas de felicidade que pairassem na atmosfera pesada que nos envolveu, pois a vida já não tem mais graça. Nada mais sorrir para nós. Não há mais os sóis brilhantes que iluminaram os nossos primeiros dias. As nossas manhãs tornaram-se invernosas e as noites se fecham na escuridão do nosso indiferentismo. E eu fico a imaginar que tão bom teria sido se tudo tivesse terminado como foi no começo, quando o amor parecia florescer, dando frutos para o futuro (que não floresceu), fazendo de nós, como eu desejei, um casal modelo, exemplar, um paradigma para outros que também caminham para os dias das incertezas da velhice. Aquela parceria, o companheirismo, a cumplicidade, os mesmos desejos pareciam florir o nosso jardim, no início, naquele momento em que plantamos tudo aquilo naquele “10 de janeiro”, que não esqueço, que já vai longe, que hoje se enche de flores e folhas murchas e retorcidas, levadas pelos ventos da nossa frieza, envolvidos que fomos por momentos tempestivos. A calmaria pouco durou. Quando houve, foi maravilhoso. Sonhávamos acordados. Havia beijos e abraços, trocas de meiguice, palavras doces. Hoje, lamentavelmente, só há trocas de críticas, imperfeições e... impropérios. As nossas virtudes nisto se transformaram. Somos, na verdade, apenas dois carentes de compreensão, necessitados de justiça, de reconhecimento, enfim, de afeto, que não soubemos trocar um com o outro. Nada mais tenho a te dizer, a não ser que a morte, muito em breve, vai nos levar. Ou eu primeiro, ou a ti, quem sabe? E aí, para um de nós que ficar, talvez reste a lembrança (ou a saudade?) que leve (tu ou eu) a acreditar que o verdadeiro amor, se tivesse existido, teria evitado o terremoto que destruiu boa parte da nossa convivência. E aquelas almas-gêmeas que parecíamos ser de início, por certo, um dia, continuarão juntas no Céu, nos festejos dos anjos, arcanjos e querubins se Deus, na Sua bondade, perdoar as nossas ofensas! Ou a morte será o nosso merecido castigo. Esta, então, é a minha última carta.