CARTAS AO LEO
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Campo Grande, Janeiro de 2010
É certo Leo que os escritoresmodernos gostam de usartrechos da LiteraturaClássicaGregacomobasepararetratar o amor, a confiança e o afeto. Ninguém, por exemplo, lendo a descrição da partidaentre Heitor e a despedida de Andrômaca, na Ilíada de Homero, poderiadeixar de ver o amor e a admiração mútua.
No entanto, leiturasobjetivas das relíquias literárias (de 700 a100 a.C.), retratam o amor, o sexo e a vida na Grécia Antiga de uma formamenospoética, menosidílica e mais realista. Nessas relíquias, estudiosos encontraramumquadrototalmente diferente dos subjetivamente distorcidos pelos escritores para adequá-los as suas ideologias políticas ou pessoais.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que havia suspeita e medo profundo do homem grego emrelação à mulher grega, originados, sobretudo pelos excessos (luxúria incontrolável e podersexual), vistos como irracionais. Para o homem grego a escravização das mulheres ao desejosexual significava quesuarazão estava subordinada à sualuxúria. Enfatizava-se repetidamente a suaastúcia, malícia, artimanhas, poderracional e sualinguagem, que diziam seruminstrumento corrompido.
No teatro grego todos os atores eram homens que usavam máscaras para representar as mulheres, que não eram admitidas nem no elenco, nem na plateia. Representavam mulheres que na vida real sequer eram consideradas cidadãs. A leiateniense invalidava umtestamento se fosse provado que o testador estava "sob a influência da loucura, da senilidade, de droga, de doençaou de uma mulher".
Por isso, meu amigo, não é de se admirar que o satirista Semonides (século XVI a.C.) tenha caracterizado os desejos bestiais (segundo ele) de diferentes mulheres, a umanimalouelementonatural. Veja:
A mulher"porca"é gorda e suja; a mulher "raposa", mal humorada e inconsistente; a mulher "cadela" é uma fofoqueira e tagarelaquenem uma surra consegue controlar; a mulher "da terra" é uma comilona, estúpida e preguiçosa; a mulher "do mar" é dada a extremosemocionais, rindo feliz num dia, enraivecida emoutros; a mulher "burra" é preguiçosa, gulosa e aceita qualquertipo de companhiaemsuacama; a mulher "doninha" é maliciosa e “loucaporsexo”, adoecendo os homenscomquemela dorme; a mulher "égua aristocrática" é exigente, orgulhosa e cara; a mulher "macaca" é astuta, desavergonhada e má.
Para Semonides a mulher"abelha" é a únicaque simboliza a boa mulher, trabalhando duro e produzindo. Amaseumarido, tem filhos e evita a fofocasexual de outras mulheres. Suasexualidade foi completamentesubordinada aos afazeres domésticos, queela cumpre como uma abelha, o quelhe permite manter o controle sobre os outrosdesejos e paixões.
É bom, no entanto, que se diga que nemtodos tinham o ponto de vista de Semonides e de filósofos como Platão, Aristóteles e Demócrito, entre outros. Cortesãs da altasociedadegrega, chamadas de betera, eram mulheres poderosas, admiradas porsuasqualidadesintelectuais, porseusatrativos e por suas habilidadessexuais, sendo muitas vezes amigas de grandeshomens (filósofos e artistas).
Para finalizar, o coro das mulheres na Tesmoforia pergunta aos homens: “Se realmente somos uma coisaruim, porquevocês se casam conosco?” A resposta: “é o atrativo sexual que arrasta os homens para elas, apesar de todos os problemas que elas causam”.
Forte Abraço e Saúde a todos.
RSérgio.
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