CARTA A UM AMIGO (Rogério Silvério)
Amigo Rogério, esta é endereçada a ti - exclusivamente! Atende à função dupla de protesto de amizade e carta, portanto, e, embora o acesso à leitura seja livre e indiscriminado neste poético Recanto, que os respeitáveis colegas atendam, em acessando o seu conteúdo, ao bom e civilizado hábito de, em não podendo apor nada de útil e agradável a respeito, não deitar, ao invés, comentários inoportunos e discordâncias ferinas, até porque uma carta não se trata exatamente de teor passível de aprovação ou desaprovação de terceiros.
Amigo Rogério, a vida é assim: como o legendário ditado, "eu não acredito em bruxas, mas que elas existem existem", a vida humana também se conduz sob estes parâmetros contraditórios.
Existe intolerância religiosa? Sim! Mas que não se diga esta verdade, para que não se melindre a hipocrisia de alguns!
Existe roubalheira, politicagem e falcatruas porfiadas em mais de um meio religioso? Sim! Peremptoriamente sim! Mas que não seja dito - embora todos saibam - que quem faz a religião é o homem, e não o contrário; porque a `minha` religião, a de fulano, a religião de cicrano é sempre a mais impoluta, a mais verdadeira, a mais sábia, a mais idônea, e portanto, roubalheira, falsidade e corrupção não lhes dizem respeito - à nossa mais sacra e perfeita religião!
Há massacres, ego e tirania em nome de Deus; egoísmo inquisitorial e ditatorial debaixo da pretensa propagação da mensagem do Cristo - daquele mesmo que nos ensinou que "O Reino de Deus está DENTRO DE NÓS", e não, e nunca, FORA? Sim! Um milhão de vezes sim! Mas que ninguém nos ouça!...
E, como a piadinha política, "nós finge que governa, e vocês finge que tão satisfeito"!
Vai por aí a infindável e tenebrosa relação das contradições humanas: da farsa, das máscaras bem postas que não podem cair por intermédio do impacto da palavra limpa, clara, amiga da verdade das coisas - que ofusca, incomodamente, e derruba por terra as artimanhas dos hipócritas e dos ignorantes de plantão!
Amigo Rogério, você não está em má companhia. Muitos, antes de ti, foram compelidos a imergir no anonimato por conta da pressão da ignorância humana - por funcionarem, diante das perfídias da Vida, como faróis apontando com acerto para o que é bom e justo em meio ao turbilhão atordoador desencadeado pelo engano e pela ilusão dos muitos que ainda não se acham em posição de entender!
Sábios; Mestres; Platão; Jesus; Buda; Cristóvão Colombo; Galileu; Mahavira... tantos vitimados pela incompreensão humana!
Você está bem acompanhado, Ro! Mas, como todos estes, mantenha-se firme, e inabalável na sua Fé!
Abraço terno; amizade e solidariedade, sempre!
Lucilla