AO MESTRE COM CARINHO

Era uma vez a humanidade.

Ela era inocente, vivia o corpo, a natureza, os instintos...

Não havia além nem pecado.

Este além, este mundo ideal, foi inventado muito posteriormente. Alguns homens, devido ao ócio, começaram a pensar sobre o universo que os cercavam.

Tudo bem, enquanto pensavam somente sobre o universo em seus aspectos físicos. Mas certo dia, num desses dias em que bebemos álcool além do normal, um certo homem surgiu como o “mais sábio dos homens”. Este sábio começou a pensar nas relações humanas, nas relações entre homens.

Nesse ínterim, o mundo que até então era aquilo que poderia ser visto, passou a perder o valor. O valor em si do mundo, naquela hora, estava perdido.

Tudo agora deveria vir da razão.

Então o discípulo desse “sábio”, continuando sua doutrina, cria um mundo separado desse nosso mundo. Sim; esse mundo no qual apoiamos nossos pés e edificamos nossas casas, tornara-se o mundo “aparente”, "ilusório".

Outro mundo foi criado, um mundo, à primeira vista, muito difícil de engolir, pois contrariava o óbvio, mas este novo mundo, o ideal, o das essências, acabou por prevalecer.

Foi o momento da fundação da decadência do homem, de sua ruína e perpétua infelicidade. Neste momento o homem trocou tudo aquilo que efetivamente ERA, para se tornar o que NÃO era.

Muitos “sábios” vieram logo após esses dois decadentes. Mas um em especial cativou praticamente toda a humanidade. Sim, esse homem rude, simples, surgido das classes menores de um povo indigente, conseguiu traduzir o que os eruditos haviam criado para uma linguagem popular, acessível ao povo iletrado.

Outro golpe baixo foi dado na humanidade, aliás um golpe mortal. De uma vez por todas agora, praticamente toda humanidade estava fadada a trocar o aqui e agora terreno por fábulas celestiais. O mundo como ele é definitivamente perdera o seu valor.

O homem então começa a sua sistemática luta contra si mesmo.

Mais e mais “sábios” ainda vieram, em profusão dessa vez. Cada um com sua doutrina esdrúxula, porém todos acabavam coniventes com os desvalorizadores da vida. Parecia uma coisa incrível, em meio a tantos clarividentes, nenhum conseguia enxergar a mais que um palmo de distância de seu nariz.

Contudo, num dia feliz, talvez o mais importante dia da humanidade, o dia 15 de outubro de 1844, veio ao mundo alguém que conseguiu enxergar este da maneira que ele é.

O que não seria nenhum ato de gênio se o mundo não tivesse sido virado pelo avesso.

E mesmo envolto até o pescoço em meio à decadência da sua época e da sua cultura, o menino era realmente clarividente, VISIONÁRIO!

Ele conseguiu simplesmente, simplesmente, REDIMIR a humanidade, pois fez esta retornar a Terra, sair da órbita do mundo das idéias, do mundo da salvação, do pecado, da alma, de Deus, e retornar ao mundo imanente, o mundo que realmente existe e é único.

Póstumo, como ele mesmo se auto-intitulou, foi incompreendido em seu tempo. E até hoje permanece para maioria inacessível. E não é porque ele não se explicou bem, mas porque numa cultura que por milênios vive embriagada em meio a mentiras, seria mesmo estranho que alguém de fato o compreendesse.

Ele morreu, mas o seu legado ficou. Sua obra ainda haverá de ter um reconhecimento ainda muito maior do que o que já conquistou, tamanha a importância de seu pensamento.

Não quero fazê-lo um santo. Ele mesmo não queria ser um santo, não queria melhorar a humanidade. Todavia a sua perspicácia, o seu “faro” como ele mesmo costumava dizer, deu uma oportunidade única a todos os homens; a de se tornar o que realmente se É.

E isso não é pouca coisa, pelo contrário, é o presente mais bondoso que alguém poderia dar à humanidade.

Quando ele dizia que era sábio, inteligente, que escrevia livros muito bons, que era um destino, sem a menor modéstia, sou obrigado a concordar, depois da leitura e da COMPREENSÃO da sua obra, que ele de fato era tudo aquilo que disse.

Enfim, a humanidade não o mereceu e nem o merece.

Foi um homem extremamente ALÉM-DO-HOMEM para sua e para nossa época.

Sua distância em relação aos outros homens é a de milhares de anos-luz!

Se hoje possuo lucidez, esta eu devo a ele.

Se hoje sou alguém “salvo” também devo a ele.

Eu queria apenas duas coisas:

Que ele estivesse vivo até hoje;

Saber escrever em alemão para lhe enviar esta carta;

Seu sorriso de aprovação seria meu maior pagamento.

To Sir with love!

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 15/01/2010
Reeditado em 28/02/2010
Código do texto: T2030431
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