Carta de um Deficiente
Prezado Amigo,
Sei que pouca gente reserva uns instantes de seu dia-a-dia para dar atenção às pessoas deficientes como eu.
Em geral, nós, portadores de necessidades especiais, temos pouco espaço para apresentar aquilo que sentimos ou pensamos, por isso mesmo resolvi aproveitar essa oportunidade para abrir minha alma e desabafar um pouco.
Nas linhas seguintes eu procuro dizer tudo aquilo que sinto. Quero transmitir a todos o modo como eu vejo a vida, e desejo também relatar toda satisfação e vontade que tenho de viver plenamente, mesmo a despeito de minha deficiência.
O ser humano é uma espécie única nesse planeta. Não existe outro ser vivo que possua tantos aspectos admiráveis como nós; nenhum tão complexo e que apresente tanta diversidade de características. Além da gama enorme de características físicas e biológicas que nos diferenciam dos demais, nós apresentamos uma riqueza de valores socioculturais que nos tornam seres únicos, realmente especiais.
É certo que entre os mais de 6 bilhões de habitantes no planeta não existem cópias, pois cada um de nós é realmente diferente e único nesse mundo. Não há nenhuma pessoa que seja idêntica a qualquer outra, mesmo entre aqueles que partilham o mesmo sobrenome ou a mesma linhagem familiar. Basta observar um momento para vermos como somos diferentes uns dos outros. Essa diferença é algo que nos torna especiais !!!
É verdade que somos realmente diferentes e, principalmente nos dias de hoje, temos buscado valorizar a totalidade da diversidade da espécie humana. Temos reconhecido a diversidade humana em todas as suas facetas – biológica, física, espiritual, psicológica, sociocultural e comportamental.
Temos visto que a valorização da diversidade faz parte do contexto atual, mas não podemos esquecer que desde o início da história da humanidade, alguns grupos de pessoas, como por exemplo, crianças, idosos, mulheres e deficientes, sempre tiveram mais dificuldades para terem seus direitos atendidos de forma plena.
Atualmente, temos vivido em meio a inúmeros avanços técnicos e científicos que têm favorecido a vida de milhões de pessoas e, como dissemos, temos visto nas últimas décadas o desabrochar de uma nova mentalidade, onde se observa que há uma preocupação crescente de pessoas e instituições que buscam promover melhores oportunidades para todos, assegurando a igualdade de direitos dentro da diversidade humana.
Sinto-me grato por ter nascido nessa era tão especial, em que observo a busca pela construção de uma sociedade formada por cidadãos plenos, onde cada vez mais se ampliam os espaços de participação social na valorização do idoso, da mulher, do negro e, também, da pessoa especial.
Sou realmente grato por viver nesse mundo diverso, e anseio por viver uma vida plena, em meio a pessoas que baseiam suas vidas em princípios de respeito às diferenças, de modo a favorecer a unidade na diversidade, a semelhança na dessemelhança.
O que mais quero é contribuir. Quero ser uma pessoa útil e produtiva. Quero ser aceito pelos outros e não quero que ninguém tenha pena ou sinta dó da minha condição.
Quero dar o melhor de mim para que haja uma valorização ainda maior de alguns fundamentos que considero essenciais, como por exemplo: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana e a aprendizagem através da cooperação.
Sou uma pessoa muito feliz, e quero que minha vida seja motivo de felicidade e orgulho para outras pessoas também. Quero ser aceito como sou !!!
Natal – RN, 13 de janeiro de 2010.
João Vale dos Santos
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Natal - RN, Janeiro de 2010.
Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br