Professor, agora lhe escrevo de outro lugar.
          Não sei bem onde estou, mas estou a caminho. Saí em salvo conduto.
          Dentre o cinza de antes, agora vejo luz e cor. Não nítidas e vibrantes, mas há cor.
          O caminho é estreito, às vezes sufocante, mas ando um pouco a cada dia. Venço uma etapa por vez.
          Há momentos que vacilo, quase volto, pois o desterro eu conheço. Trilhei cada centímetro tateando na escuridão, no esquecimento da morte em vida.
          Mas prossigo.



          É doloroso, as pernas travam, os joelhos sangram. A alma grita, mas ninguém escuta.
          Minhas companheiras de antes vão ficando para trás. Tentam, mas já não conseguem me acompanhar.
          A luz já não ofusca mais meus olhos, e dentre o brilho, identifico formas. Formas conhecidas, que ali já estavam, mas eu não via. Consigo tocá-las, sentir-las, me aquecer em seu calor.
          Há outras, mas a estas sou invisível.



          Adiante, onde ainda não alcancei, há algo.
          Não sei bem o que é. Não consigo identificar com os olhos, mas identifico com o coração. Não vejo seus lábios, mas sinto suas palavras. Não vejo suas feridas, mas sinto suas dores. Não vejo seus olhos, mas sinto suas lágrimas e sorrisos.
          Mas algo eu vejo ..... são mãos alcançando as minhas.



          Agora é mais fácil caminhar. Pois se canso, tenho onde apoiar a cabeça; se caio, tenho onde apoiar minhas mãos.


          Vou chegar, Professor. Pode aguardar.




(Dedicado ao meu querido Márcio, que mesmo eu sendo Deísta, me tem estima)







Imagem: agulheta.blogs.sapo.pt




SIMONE SIMON PAZ
Enviado por SIMONE SIMON PAZ em 11/01/2010
Reeditado em 07/11/2010
Código do texto: T2022646
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