MEU CARO AMIGO

Rio de Janeiro, 09/01/2010.

Como havia dito antes, meu caro amigo surtei de verdade. Me deu um siricotico na cabeça e coçava muito com um emaranhado de nós que não queriam se ligar outra vez. Andei de fato tomando comprimidos em excesso para dormir o acalmil. Minha mãe fala o tempo todo em coisas ruins. Nossa senhora da compadecida! As vezes, da vontade de sair correndo. Já não vejo beleza na vida nem tenho interesse pelas coisas. Queria ir no seu habitat, sob pretexto de gritar e chorar sozinha por tudo que tenho passado.

Esqueci de lhe contar que da última vez quando estava em São Pedro da Aldeia, recebi o convite de minha irmã para assistir a primeira comunão do meu sobrinho. Não tinha roupa adequada, pois, estava comprando algumas peças no brechó, tanto aqui do Rio como de lá;por conta do corpo obesso que tenho e da vergonha de experimentar roupa nas lojas de moda.

Comprei numa loja daqui uma blusa lilás e uma bermuda roxa. A roupa qual fui para lá sujou no õnibus quando fiz um pequeno lanche e tive que lavar. Choveu muito naquele dia e não secou. Me aprontei toda, passei batom, rímel e blush de leve no rosto e molhei o cabelo porque não se da com química alguma. Da última vez, me feriu a cabeça. Minha mãe me fez trocar de roupa reclamando e quando cheguei na igreja... ah meu amigo, todo mundo olhou pra min como quem pergunta se eu ia entrar na igreja daquele jeito. Minha mãe queria que ficasse escondida na fileira de bancos próximo da porta onde ninguém, pudesse me ver. Puxa vida! Me senti igual ou pior que um bicho. Nem meu seio estava aparecendo embora estivesse de sutiãn. Fiquei tão desorientada que preferi sair da igreja e ficar lá fora.

Mas, as pessoas são mesquinhas e adoram pisar nos outros. Teve gente que fez questão de sair da igreja e rir da minha cara. Sabe o que penso, que no fundo Deus é culpado das pessoas serem assim. Devia ter feito todo mundo igual. Uma cor só, uma característica só e acabaria gozações e constrangimentos. Quando voltei pra casa me desentendi com minha mãe porque sismou que eu tinha que aceitar aquilo com naturalidade. Estaava quieta no meu canto chorando e lá veio ela me aborrecer.

Tomei um sedativo e dormi. Quando acordei minha irmã foi nos visitar e falamos do acontecido. Pediu para ver a roupa que era dando razão ao povo da igreja. Em nenhum momento, fui contra o fato deles não me deixarem entrar na igreja porque estava de short. Sei que é proibido. Acontece que já havia passado antes por esse constrangimento quando assisti a missa anterior logo que cheguei na cidade de branco dos pés a cabeça. meu cabelo estava feio e o envolvi numa écharp branco que aos olhos de minha irmã todos me olharam torto porque estava caracterizada macumbeira.

Sou macumbeira sim, não dessas que faz e desfaz trabalho e também, não vou lhe negar que nunca fiz nada contra alguém, porque estaria mentindo. Te contarei numa próxima carta como foi minha vida enfiada na macumba. Agora, continuando o que comecei a contar, minha irmã me ofendeu espiritualmente usando o termo de baixo escalão para se refirir aos meus orixás, qual sou adepta. Nossa a casa caiu de lá pra cá. Fiquei nervosa, virei bicho e cada vez que falava dela minha mãe a defendia eu ficava pior.

È meu caro amigo, de lá pra cá minha vida no plano terreno não tem sido dos melhores. Tanto ela como meu irmão volte e meia falavam dos meus santos sempre desculpando-se sob intuito de não me afetar sabendo que aquilo me entristecia. E minha mãe perdeu a alegria de viver. Vivo agora, distante dos meus orixás, não por falta de fé. Mas, precisei me agarrar a Jesus do Porto das Caixas crendo que cure essa enfermidade que tomou conta de minha mãe. Ultimamente, até da comida que faço reclama. Do açúcar que ponho no café e quando vou lhe dar remédios. Tem dias que ela diz que não vai morrer porque não vai dar esse gosto pra mim. Tenho que aturá-la o resto da vida. No outro ela fala que é o começo do fim. Tenho que aceitar e não enlouquecer. Quem sabe o que ela está sentindo é ela. E por ai, vai o meu drama de vidaDesculpa se eu choro, choro, choro choooooro tanto. Se as vezes me lembro de momentos que não voltam mais. Me perdoa meu amigo, por favor. Aqui na terra se prepara os jogos de futebol e o rítmo acelerado do carnaval, mas na verdade o que quero lhe dizer... È que a coisa continua preta, e tá careta até que venha o final chegar.

Um abraço e até a próxima.

Dinah Monteiro da Costa

Dyanne
Enviado por Dyanne em 09/01/2010
Código do texto: T2019784