Carta Amassada IV
"Vi um grande amor gritar dentro de mim como sonhei um dia..."(Peninha)
Em mim, dentro de mim, dispersam sentimentos diversos, multiplos, solenes, vagos, indecisos, pequenos. Não ninguém percebe ao menos que busque um diálogo bastante profundo e espere pelo manhã perfeita para que a rosa desabroche. Quando meu coração caiu e se partiu ele estava cheio de mim, não fosse a dura realidade, talvez não se esfacelaria tão facilmente. Ele se quebrou, dos destroços sobrou a saudade, adormeci enquanto sonhava, acordei do silêncio que dormia.
Ah! O sereno que acaracia as folhas reflete um carinho inigualável, tal qual o homem reverencia a mulher em teu zelo, assim quis despejar minhas palavras mas elas cairam e se quebraram. O vento já havia se dissipado e não soprou esforço para deter a força com que ele se derramaria ali. E se desprendeu de mim, de maneira tão veemente, arrancado foi, retirado como se invasor fosse, levou minha alma e o que restou inconsolável se fez.
Já fui poeta um dia, já descrevi meus delírios, sonhos, romances, tristezas...vagos caminhos desvendei em que me pude enxergar na água refletida, minhas lágrimas era mar que secava com o tempo deixando no lugar estátuas, meu passado fossilizado, lembranças eternizadas pela perene corrente da vida.
Ah! Se essa seiva que circula em mim pudesse reviver os mortos, deixaria para amanhã, quando a cortina se abrisse e eu brilhasse no palco da existência como um dia sonhei. Cortaria de meus pulsos a dor e sangraria sobre a terra que me fez tanto sofrer, regaria as sementes adormecidas, ao som da manhã deixaria despertar o coração dos mortos. Veria o amor que um dia sonhei ressurgir como de um descanso interrompido.
Seus cabelos ainda dessarrumados, sua boca natural, sua pele tão macia e um perfume trazido pela manhã, seria o melhor momento para entregar essa carta, porém o sonho se desfez e a hora é imprópria, esperar, escrever, rascunhar...exercício sofrido para mãos inquietas que descrevem sedentas o anseio de quem tanto procura " o amor que sonhei um dia..."
Te escreverei tantas e quantas vezes forem suficientes para que meus assombros se percam e reste apenas a pura inocência, descrita em palavras singelas:gosto tanto de você!
Carta Amassada em 02/01/2010 às 11h07