Mensagem de Ano novo

Nessa época costumamos promover uma reflexão sobre o que temos feito dos nossos dias e a que rumo estamos guiando os nossos passos. Às vezes o próprio caminho é indefinido e não se enxerga muito além do horizonte, mas é preciso força e coragem para permanecer na estrada.

São muitos os desafios e as conquistas que nos aguardam. Nesse fim de ano não lhes desejo sensações que se concretizem no individualismo: este ano que está porvir precisa ser escrito de um novo modo, com novas letras e acompanhado de uma maneira totalmente diferente de enxergar o papel que temos no mundo – não somos platéia, mas sujeitos ativos e transformadores da realidade em que vivemos.

Porque o mundo está sendo de um modo que não nos agrada e não é válido apenas pôr dedos em rostos e discursar em vão: é preciso agir. Buscamos a felicidade e a paz, precisamos da luta para concretizá-las.

E é preciso lutar, pois ‘A paz é possível se nos mobilizarmos por ela. Nas consciências e nas ruas. Nas ruas e nas consciências’ (Saramago). E o ser humano é fonte de inesgotável esperança, mas precisamos ir além dos sonhos de mudança, precisamos relacioná-los a modos concretos de mudar o cotidiano, aquilo que não nos agrada.

Passamos diariamente por semáforos fechados e vemos diversos rostos que não guardamos em nossas memórias, antes os afastamos, buscamos repelir a imagem desagradável de pessoas em necessidade: o que os olhos não vêem o coração não sente, não é mesmo?

Não nos identificamos com o outro, não nos reconhecemos na face do outro – e alguma coisa está muito errada, portanto. Somos todos homo sapiens sapiens, pensamos, agimos, sentimos, somos conscientes do que fomos, somos e seremos.

Somos diferentes dos outros animais ditos irracionais, porém somos iguais uns aos outros. Temos sim nossas diferenças - credo, país, classe social. Mas as diferenças não podem ser vistas como desigualdades e não podemos simplesmente ficar sentados enquanto vemos o grande monstro se criar ao nosso redor, enquanto fechamos o vidro com agilidade tentando evitar o contato, o cheiro, a visão, a apreensão pelos sentidos.

E assim nos distanciamos do que nos faz humanos. É possível buscar uma felicidade nos nossos dias, sabendo que ela não se encontra no rosto dos outros? É possível lhe desejar a paz sabendo que há guerra em outro canto da cidade? É possível se fartar e passar tardes em shoppings sabendo que existem pessoas passando fome?

É possível ter tudo isto e nos sentirmos bem se não nos virmos refletidos nos outros?

“Não é na resignação, mas na rebeldia, diante das injustiças, que nos afirmamos” (Paulo Freire).

É por isso que venho desejar algo diferente esse ano, nesta mensagem: não uma utopia, mas um sonho coletivizado, em ação organizada.

Desejo que este ano que vem encontremos a paz, a felicidade, a saúde e o amor fraternos, nos olhos dos outros, na certeza de que contribuímos com a melhoria de vida de alguém.

Que nos engajemos, que não sejamos individualistas, que doemos sangue, que leiamos para idosos, que doemos roupas, que dediquemos a nossa atenção e um pouco de nosso tempo aos problemas dos outros também, para que, deste modo, o ano de 2010 seja muito melhor a todos nós!

“Pensamos demais e sentimos muito pouco. Mais que máquinas, precisamos de humanidade. Mais que inteligência, precisamos de ternura. Sem essas qualidades, tudo está perdido” (Charles Chaplin).

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 29/12/2009
Código do texto: T2001784