AO MEU AMIGO, MENINO JESUS
Quando era criança, sonhava enviar-te uma carta, mas como não sabia escrever, imaginava as palavras que escreveria quando aprendesse. Lembro-me algumas partes da carta, as quais gravava na memória e dizia mais ou menos assim:
Minha mãe dizia que a estrela guia do pinheirinho de natal, era a tua estrela, que brilhou no momento em que nascestes e deste modo, percebi que devias ser muito importante, pois tua estrela nunca se apagava e guardei, num cantinho do coração criança, a centelha dessa estrela. A cada momento de dor que surgia, eu pensava em ti e logo a tua estrela brilhava forte, fazendo com que a felicidade tomasse o lugar da tristeza.
Mamãe contava ainda, que os singelos presentes que recebíamos no natal , representavam os presentes que os três Reis Magos trouxeram-te por ocasião de teu nascimento, os quais eram tudo o quanto necessitavas. Talvez por isto, nunca atribuí valor ao presente em si e sim ao empenho que meus pais faziam para conseguir comprar-me um presente. O olhar de felicidade de meus pais, a contemplar-me a satisfação de ser presenteada, tornava meu coração repleto de amor e alegria, fazendo com que tua estrela brilhasse com mais intensidade e passei a ver em ti, um amigo verdadeiro. Tivemos muitos natais felizes, maravilhosos e cheios de ternura, com a família toda reunida em alegres confraternizações, acompanhada sempre da tua estrela a iluminar-nos.
Começava a entender, agora, o que realmente minha mãe queria dizer quando explicava-me que tu tinhas morrido para salvar-nos. Meu coração de criança não entendia o por quê de tua morte, se tudo que professavas era o Amor! Nas noites do Natal sempre ficava um pouco triste, fitando por muito tempo a tua estrela e agoniava-me saber que, embora sendo apenas um menino, aguardava-te um glorioso, mas triste destino. Mas crescí, Menino Jesus, e comigo não foi diferente! Passei a olhar o mundo com olhos mais atentos e percebi a violência, a miséria, a ganância, o egoísmo e tantos outros sentimentos e situações que delatavam a nossa condição de humanos falíveis e minha alegria já não era mais tão completa. Mesmo com o coração sangrando, invoquei tua estrela e ela brilhou novamente, fazendo-me perceber que eu deveria fazer a minha parte para amenizar tais sofrimentos e assim procurei fazê-lo. O tempo passou, meu amigo, e em minha vida, muitas estrelas perderam o brilho, algumas, feito estrelas cadentes foram habitar outros mundos, deixando espaços vazios, mas tão necessários a nossa evolução.
A ti, juntei outras estrelas para tomarem os espaços tristonhos de meu coração e fui vivendo meus natais de amor, de alegria e de paz, comemorando sempre o teu nascimento, pois sabia que seríamos eternos amigos, e que a tua estrela jamais apagaría-se em meu coração!
Hoje, entendo que todo o teu sofrimento, foi para que eu desfrutasse esta vida trilhada no amor, que é dádiva divina e que a
ti, Menino Jesus, eu renderia todas as honras e todas as glórias e manteria acesa a chama da tua estrela que continua guiando-me pelos caminhos da fé e do amor, até o dia em que nos reecontra-
remos para rejubilarmo-nos com a nossa amizade!
Aceite um abraço dessa tua amiga e dos teus muitos amigos, que ainda crêem que a Estrela de Belém, para sempre rebrilhará a Esperança.
Helena da Rosa