A Um Amigo

Meus dias já não são os mesmos depois que percebi-te na minha vida. Conhecia-te de breves momentos porém jamais poderia imaginar que poderia roubar-me a paz em algum instante. Mostrou-se tão lentamente, tão calmo, que infiltrou-se no seio de minha alma desde o amanhecer até a hora de meu sono. As palavras amigas que principiaram nossas conversas eram calmas, serenas, levaram-me todo o mal aliviando o peso da rotina dos dias nas horas seguidas e infindas de risos, desabafos e confissões... tornou-se meu anjo amigo, que sempre estava presente com a palavra de cura. Eu não poderia compreender como alguém que parecia tão diferente de mim, pudesse ter transformado-se no meu abrigo? Como poderia saber, mesmo sem querer, tanto de mim? Assim suas palavras elevaram-me a imaginar seus gestos, suas expressões quando falava e ria. Levaram-me a imaginar-te mais do que poderia suportar meu peito.

Depois de tanto tempo de palavras fraternais, a distância parece-me muito maior e as despedidas cada vez mais difíceis e dolorosas do que jamais haviam sido...algo inesperado acontecia no meu ser... Desde então você pôs na minha alma o maior medo que um dia pude experimentar: o medo de entregar-me a essa voraz e inesperada paixão.

Confessando seu querer levou-me a tranquilidade em que vivia... Ao dizer-me dos sonhos que me continham, arrancou para sempre a quietação dos dias meus...como desejei dizer-lhe as mesmas palavras! Mas com medo, fugi. Fugi de todos os sonhos e desejos, do meu querer, fiquei apenas com minha razão e posso dizer dela que não é uma boa companhia para a solidão.

Confesso-te que me faz falta. Faz-me falta seu riso contagiante, suas brincadeiras, seu jeito de tirar-me do sério...

Hoje porém, a distância abraça-nos intimamente e a saudade causa ânsias de presença, falta-me uma parte que está com você. Sei que nossas vidas têem rumos contrários, há um oceano de dúvidas, medos e razões... mas teus olhos ainda afligem minha calma, inquietam minha alma e calam minha voz. Seu sorriso ainda desconcerta-me, tira-me do chão, abala-me, desperta cada sentido, alude cada certeza e ressuscita cada pensamento antes sepultados. Você é e sempre será a onda que arrasta-me e impele-me contra o rochedo, destruindo-me e refazendo-me por suas próprias mãos.

Ousaria eu dizer que não é paixão o que sinto por ti?

E mesmo na loucura dos meus dias mais turbulentos... amo-te.

A um Amigo