Carta Amassada III
Hoje resolvi escrever para você, juntei toda minha força, ainda que não restava nada em mim que resistisse para não falar do que sinto.
Ainda que ermos sejam nossos caminhos, andar por eles até chegar a você foi uma experiência fascinante. Por tanto tempo procurei luar tão lindo como esse encontrado em seu olhar. Não pude deixar de comentar, ainda que tenha visto por pouco tempo. O silêncio de minhas noites foi invadido por sua doce presença.
Não sei como serão os dias daqui para frente, penso que sejam de frio intenso, queria me perder nessas horas de tamanha agonia, onde meus gritos sufocados liberem toda essa avalanche de sentimentos e me enterre para sempre, e quando acordar suas mãos estarão me acariciando, doces mãos, plenas de conforto, ternas de mansidão.
Estaria com você, abraçado, sentado na beira do mar sentido a maresia suspensa no ar. Eu quando vejo, estou só, e choro, choro...
Queria olhar em teus olhos, olhos peregrinos, furtivos de emoção, mas no coração uma canção escondida toca, eu queria cantá-la para você, mas não tenho o mesmo vigor. Minha voz se cala, e eu da fonte perene me transforme em pedra adormecida. Em peito a chama viva se esconde na escuridão da noite, perpétua, mas o que importa? Agora tudo se passou, e eu fiquei aqui sozinho, sentado na beira do mar, vendo as fagulhas das estrelas se afogarem na imensidão negra do universo.
Minhas lágrimas se misturam as águas do mar, jamais percebidas, jamais sentidas, jamais vivas, apenas atravessaram minha face e morreram como os sentimentos que carregavam. Não as queria, mereceria mais se não suportasse a dor que minha boca silencia.
Hoje não queria falar de minhas perdas, apenas o que ganhei contigo, escrevi uma história cheia de intensos momentos. Enquanto você dormia eu sonhava, passeava por terras distantes, onde as flores nunca morriam, lá escolhi uma para você e quando era tarde adormeci.
Quando acordei você não estava mais lá, ainda guardava o verso que fiz para você, mas quando vi tinha partido. Procurei-a por todos os lugares e percebi que um rastro descia do céu como se deixasse para trás algo perdido, era seu perfume ainda em minha roupa, como se tivesse deixado num abraço uma parte de você, chorei...
Não sei por quanto tempo carreguei, mas ainda não tinha dito amor, e você já tinha partido, não segurei sua mão, não toquei seu rosto, não senti teu beijo, guardo ainda os versos que te fiz. São os versos mais lindos que pude escrever e se desse mal ainda guardo um pedaço, não sou capaz de fechar os olhos e não te imaginar sempre aqui.
Enquanto a noite desce, soturna, escura, triste, eu escrevo, aqueles versos que guardei e não pude te dizer, escrevo. Esqueço que jamais serão ouvidos, pois voz esqueço e em tudo silencio, calo sempre como quem embriaga e desmaia. Em teus braços jamais sentidos, adormeço recitando meus versos, amor que distante se oculta, em qualquer noite ainda há de brilhar, ainda que mentindo seja dia,e eu esteja desmaiado em alguma esquina...