Carta Amassada II

Rascunhei hoje algumas palavras num papel em cima da minha mesa, que fantasia veste toda minh'alma quando vagueia os pensamentos. Quando eles olham para você já não encontram espaço, um esboço apenas se transforma numa confissão serena. Eu queria entregar estes versos. Purificado de toda hipocrisia e timidez. Deixar os versos trançados cairem e escorrerem pelo chão. Como o sereno do orvalho encontra cada folha e ali deposita toda sua essência.

Minhas palavras se tornam sonhos que se libertam, voam céus infinitos, repousam em seus lugares amplos. assistem estrelas desmaiarem na imensidão negra da noite.

Não existiria momento melhor para lembrança de teus olhos, seu jeito sutil, natural, verdadeiro. Tão mulher em suas atitudes, tão menina em seus sonhos. E eu vislumbro encantado toda plenitude almejada. Mundos que se encontram, universos que se formam, intensos feixes de luz, e fecho os olhos imaginando quando um beijo vai me tocar os lábios. Um abraço vai me conduzir as nuvens, um sorriso que me levará a inspiração pura e perfeita.

Como tenho suspirado notas melancólicas. Sinfonia aquática que derrama suas paixões, e eu apenas sirvo da inspiração ofertada para descrever um choro sufocado.

Debruçado na janela de meus dias, vejo meus verbos dançando como luzes, vibram de emoção as cordas sentimentais, ecoam sonidos de intensa brandura. E olhando apenas ao longe contemplo: amores, sorriso, dias, pessoas,noites, segundos, anônimos, vidas.

E quando meus pensamentos alcançam o céu as lágrimas jorram, descem ladeiras inclinadas e tocam a face fria do chão. Fico prostrado tentando sugar de minha redenção o néctar sagrado. Amasso novamente o papel, queria eu ser poeta para escrever belos versos. Queria ter o dom mágico das palavras para sintetizar o que sinto. Transpiro em cima do papel e meus delírios estremecem toda natureza de pedra que criei...

Eu queria escrever uma carta...