CARTAS AO LEO
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Campo Grande, dezembro de 2009.
Você acreditaria meu amigo, que o papel higiênico quando foi inventado encontrou resistência para ser aceito? É um detalhe sórdido, porém verdadeiro. Pois a higiene pessoal, tal como a concebemos hoje, só começou a se estabelecer no século XIX, antes disso, as pessoas não só toleravam a sujeira como também, muitas vezes, nutriam certo deleite pessoal com ela.
Pesquisadores famosos contam que praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram grande valor à higiene pessoal e ao bem-estar físico. No entanto, alguns fizeram uma constatação chocante e polêmica: o cristianismo representou um retrocesso na história da higiene. Será?
Eles argumentam que na Antiguidade os egípcios já fabricavam sabão; na Grécia o banho era uma instituição cotidiana. Os romanos criaram aquedutos para abastecer suas principais cidades e frequentavam diariamente banhos públicos, onde o corpo era lavado e esfregado vigorosamente (não se usava sabão) para tirar a sujeira. Mas, que tudo isso desapareceu com a queda do império e a ascensão dos cristãos. É claro que o banho não desapareceu, assim, da noite para o dia. Porém, aos poucos, esses locais de banhos, foram associados a costumes pagãos e, consequentemente, ao pecado. Neste caso Leo, vários registros históricos comprovam o fato. Por exemplo, no século VI era regra da vida monástica a determinação de São Bento de que só os monges doentes ou muitos velhos fossem autorizados a se banhar. Na maioria dos monastérios da Europa medieval o banho era praticado três vezes, no máximo, ao ano. E como a Igreja tinha grande influência entre a população que vivia fora do claustro, supõe-se que o costume não fosse muito superior a esses três dias.
Por muitos séculos a higiene pessoal do cristão europeu não passou de lavar as mãos antes das refeições e esfregar seus dentes com paninhos, até que a prática de lavar o corpo todo, retorna-se ao seu cotidiano.
Anotei alguns fatos que comprovam esse enunciado. Veja:
No palácio de Versalhes, um decreto de 1715, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana. Ora bem, se decretaram uma vez por semana; eu suponho que o recolhimento antes do decreto demorava muito mais. É ou Noé, Leo?
Atribuíam-se perigos ao banho: lavar o corpo todo abriria os poros facilitando a infiltração de doenças. Além disso, acreditava-se que a roupa absorvia a sujeira do corpo. Portanto, era só trocar de roupa todos os dias para manter-se limpinho. No entanto, Dom João VI, não acreditava muito nesse conceito. Ele detestava banho e costumava a vestir a mesma roupa até que apodrecesse.
Relatos de palacianos contam que a rainha espanhola Isabel (1451–1504) só tomou, em toda a sua vida, dois banhos de corpo inteiro.
Hoje a higiene pessoal parece ter chegado a extremos, especialmente entre os americanos. Alguns cientistas já alertaram que essa superproteção higiênica está debilitando a resistência imunológica das crianças e aumentando a incidência de doenças.
Pois bem, mas... e o papel higiênico? Ainda, segundo os historiadores, o papel higiênico só surgiu nos Estados Unidos, em 1857; e o produto demorou a vencer a resistência do mercado pela palha de milho, pela esponja, entre outros. Certo mesmo, meu amigo, é que antes do papel higiênico, cada um se virava como podia.
Inté! Mano veio!
Ricardo Sérgio.
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