Carta à Solidão

Rio de Janeiro, 22 de setembro de 2009.

De tudo que se passou, sinto agora o movimento de um pêndulo emocional que oscila entre a sorridente nostalgia e o lamento de saudade. Devo admitir - ante a tudo o que tentei definir e que nunca aspirou definição – o reconhecimento mútuo e tardio do valor passional que esteve entre nós, muito embora tenha se passado em momentos distintos e não convergentes, na tua e na minha pele. Ambas sentiram a carência específica uma da outra, a vontade da língua ardente do beijo, o desejo que somente juntas conseguiam provocar. O que nos houve foi um simples desencontro temporal, que tomou uma densidade tamanha e resultou no fim: foi a falta de atenção, de paciência e compreensão que nos causou essa evasão.

A brevidade de impulsos nunca é calculada pelo início e, ao menos por mim, sempre inesperada. Contive-me quando do teu recuo, sem saber que tal tortura seria a razão da degenerescência que me exalava, e por muitas tentei culpar o teu receio para eximir minha própria culpa, ignorando que o sentimento que nos toca é egoísta e pessoal, e portanto nunca exigente da reciprocidade que insistimos em vão. Meu lamento é ter contido o exagero que sempre inspirou minha natureza na tentativa de impor uma lógica infundada que nunca seria exata, porque a definição do futuro é absolutamente inconstante e perfeitamente mutável a cada risco que nos permitimos correr.

Por tudo, guardo ainda em acalanto o teu breve passado, meu longo encanto, para que talvez, um dia, possas ler.

Ie
Enviado por Ie em 14/12/2009
Código do texto: T1977532
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