Cartas de Paris 12
Querido Amigo,
De volta a Paris, não resisti à tentação de rever este recanto privilegiado deste amado país que é a França. Estou num luminoso e florido terraço de um hotel, no alto da montanha, na encantadora Apt, na Provença.
A primeira vez que estive aqui, foi num frio mês de dezembro. Há tempo que desejava retornar a esta bela região, para ver e sentir a primavera, o aroma das alfazemas, o correr cristalino das cachoeiras. Agora, o céu está mais azul do que nunca e o sol cobre a pequena cidade com o seu manto dourado. Voltei para conhecer melhor este belo recanto francês, onde a vida parece fluir nos aromas e sabores de cada cidade.
Passei alguns dias visitando Avignon, respirando o poder do passado marcado nas famosas catedrais. Em Arles, embriaguei-me com os campos de girasois, que nesta época do ano oferecem um festival de luz e cores. Sentada num banco de jardim, vendo o contraste entre o novo e o velho, transporto-me a um tempo passado e reencontro alguns mestres da pintura com cavaletes, palhetas e telas, perdidos entre campos de trigo e alfazema.
Neste recanto ecológico, a conservação da natureza e o cuidado em preservar a flora e a fauna, mostra-nos que o mundo ainda não está perdido. Em Apt, de onde escrevo esta carta, todos os dias pela manhã, faço longas caminhadas por trilhas cobertas de flores, sentindo o cheiro doce e acre da terra orvalhada.
Geralmente, almoço neste terraço, uma refeição leve e frugal, acompanhada de um saboroso vinho. O hotel é agradável e aconchegante e os senhorios, um casal simpático e falante que se preocupa com o meu silêncio. Não sabem o quanto gosto desse mutismo, uma maneira de estar comigo mesma.
Quando chega o fim da tarde, num pequeno carro de aluguel, ouvindo a doce música francesa, vou percorrer recantos desconhecidos. Antes do sol se recolher, paro num “Bistrôt” qualquer e me ofereço um delicioso banquete, onde saboreio o néctar dos deuses, tão apreciado por ti – o delicioso champanhe.
Assim, retorno leve e adormeço num sono tranqüilo, povoado de sonhos, onde o cavaleiro andante, perdido nos meus pensamentos, virá me encontrar. Amanhã, irei para Marselha conhecer melhor a região, onde estive somente uma vez. De lá continuarei esta missiva. Abraços afetuosos da amiga caminhante e sonhadora.
Ina Melo
Paris, abril/2000